Na pandemia, o Grupo Mendes descobriu que parte de seus negócios não era essencial. Fundada há 50 anos, a empresa que atua no litoral de São Paulo tinha seus negócios concentrados em incorporação, shoppings e hotelaria.
Com shoppings e hotéis fechados em função da crise sanitária em boa parte de 2020 e 2021, Paulo Mendes, CEO e filho do fundador da companhia, partiu para uma reflexão sobre como diversificar a empresa com um longo histórico de atuação em Santos e nas cidades litorâneas vizinhas.
Não tardou para Mendes mirar em um setor em franca expansão: a geração distribuída de energia solar. Criada em 2021, a Ineer – um braço focado em energia fotovoltaica – começou a gerar os primeiros megawatts dois anos depois.
Instaladas no interior de São Paulo, as fazendas solares são o primeiro negócio da empresa fora do litoral. O Grupo Mendes agora mira na consolidação dos ativos de energia solar e expandir suas operações para fora de São Paulo.
Com 62 fazendas solares no portfólio, o grupo acaba de comprar mais 18 usinas da Navi Capital, que tem R$ 7 bilhões em ativos sob gestão. As usinas fazem parte dos fundos de investimento Navi Energias Sustentáveis FIP-IE I e II.
Juntas, essas unidades têm capacidade para gerar 65 megawatts-pico, energia suficiente para abastecer uma cidade de aproximadamente 75 mil habitantes. Os ativos estão localizados em 17 cidades de São Paulo, onde fica a maioria das usinas, Goiás e Rio de Janeiro.
“A ideia sempre foi captar, construir e desinvestir assim que esses projetos se tornassem operacionais,” disse Guilherme Sassi, CIO e sócio da Navi. “A gente enxergou de forma bem oportunística que o setor traz retornos bastante atrativos. O Paulo Mendes enxergou a mesma coisa, mas ele está com fôlego maior para crescer.”
Estima-se que a venda tenha sido fechada em torno de R$ 390 milhões. No mercado, o megawatt de capacidade em energia solar tem sido negociado a R$ 6 milhões — o Pátria teria pago esse valor numa transação envolvendo 29 usinas que comprou da Raízen em maio.
Com a aquisição, a Ineer passa a ter 235 MWp em portfólio e planeja chegar a 300 MWp em 2026. “A gente continua prospectando o mercado para continuar avançando em aquisições,” diz Mendes.
O modelo de negócios da companhia é de geração solar compartilhada, destinado a pessoas físicas ou jurídicas atendidas pelas concessionárias que recebem a energia da Ineer.
A empresa já tem 3 mil clientes, que pagam um ticket médio de R$ 2.375, o que gera uma economia de pelo menos 10% em relação à conta de luz tradicional.
O investimento total na geração solar distribuída deve alcançar R$ 1,2 bilhão, entre os ativos já comprados e os em prospecção. Em um segundo momento, a empresa planeja entrar no mercado livre. Segundo Mendes, uma debênture incentivada deve ser lançada nos próximos três meses.
Fundado em 1975 pelo português Armenio Mendes (falecido em 2017), o grupo, que começou na incorporação residencial, planeja investir R$ 2 bilhões nos próximos dois anos nas áreas em que atua.
O maior investimento do grupo é o projeto Navegantes, duas torres residenciais de alto padrão na Ponta da Praia, em Santos. Os edifícios – os mais altos do litoral paulista – devem alcançar R$ 2,3 bilhões em VGV.
Na divisão de shoppings, o grupo começa a construção de um novo empreendimento em Praia Grande em julho com entrega prevista para 2027. Com investimento de R$ 600 milhões, o Vilamar Shopping terá 300 lojas em uma área bruta locável de 42 mil metros quadrados.
“Na incorporação residencial e nos shoppings, a gente não pretende subir a serra, não pretende ir para São Paulo,” diz Mendes. Mas para as ambições em energia, o grupo do litoral não enxerga limites.