O Grupo Boticário aumentou suas vendas em 30,5% ano passado, ganhando mais uma vez participação de mercado e dobrando seu negócio B2B, o vice chairman da empresa, Artur Grynbaum, disse ao Brazil Journal.
As vendas totais do grupo – dono de marcas como Eudora, Quem Disse Berenice? e Beauty Box – bateram um recorde de R$ 30,8 bilhões, em comparação aos R$ 23 bi de 2022 e 71% acima dos R$ 18 bi de 2021.
O crescimento do top line é ainda mais impressionante quando se considera o mercado de beleza e cosméticos, que, na estimativa do Boticário, cresceu 16% no ano passado. No mesmo ano, a Natura&Co viu sua receita bruta cair 8,4%, para R$ 34,7 bilhões – estreitando o gap de liderança.
O grupo – que começou em 1977 como uma farmácia de manipulação no centro de Curitiba – cresceu em todos os canais, mas a alta foi puxada principalmente pelo negócio B2B, que inclui a venda em farmácias, supermercados, lojas de departamento e perfumarias.
A empresa fundada por Miguel Krigsner adicionou mais de 40.000 pontos de vendas no ano – ultrapassando a marca de 100.000 – e expandir as vendas B2B em 97%.
O canal B2B também foi beneficiado pela incorporação da marca de produtos de cabelo Truss (voltada para profissionais), que o Boticário adquiriu no final de 2022 e passou a contribuir com o resultado em 2023.
O canal proprietário (lojas físicas) e a venda direta cresceram na faixa dos 30%, e o digital teve uma pequena desaceleração, crescendo ao redor de 17%.
Grynbaum disse que mesmo com o forte crescimento, a companhia conseguiu manter a margem de lucro no mesmo patamar do ano anterior.
“Expandimos em canais com menor margem, mas a saúde dos nossos canais proprietários continuou muito boa, o que ajudou na manutenção do nível,” disse ele.
Para 2024, o executivo disse que o crescimento do Boticário deve perder um pouco o fôlego, dada a maior base comparativa.
“Quisera eu manter 30% de crescimento ao ano por vários anos, mas com a base maior devemos crescer um pouco menos este ano,” disse ele. “Mas ainda vai ser um ritmo muito importante, de duplo dígito alto.”
Grynbaum disse que acredita muito na performance do setor e trabalha com uma estimativa de crescimento do PIB este ano “um pouco maior que o do ano passado” – o que vai gerar mais renda disponível para as famílias, que poderão aumentar o consumo.
Segundo Grynbaum, a categoria de beleza e cosméticos não é tão impactada pela queda dos juros, dado que os tíquetes não são tão altos, mas a Selic menor beneficia a companhia do ponto de vista das despesas financeiras.
A alavancagem do Grupo Boticário fechou o ano em cerca de 1,2x EBITDA; a companhia não abre o valor de sua dívida líquida nem do EBITDA. “É um patamar controlado, mas os juros altos sempre machucam,” disse Grynbaum.
No B2B, o trabalho de expansão da rede de distribuição já está praticamente finalizado. Agora, o foco será em melhorar a produtividade dos pontos que o Boticário já ocupa, ampliando o portfólio por ponto de venda, com a inclusão de mais marcas e categorias, disse o vice-chairman.
O Grupo Boticário pretende abrir 110 novas lojas físicas este ano, todas no modelo de franquias. No total, a rede tem 4.000 lojas, das quais 500 são próprias. A vasta maioria – 3.875 – é da marca Boticário.
Grynbaum disse que 2024 também deve ser um ano de trabalhar os ativos adquiridos – basicamente, a Truss – e que a empresa não tem nenhuma nova aquisição no radar. “A Truss foi uma aquisição grande, então ainda tem algumas coisas para fazer em 2024, mas todas já mapeadas.”
Segundo ele, o trabalho na Truss será centrado na melhoria da produção, no desenvolvimento e lançamento de novos produtos e em melhorar o modelo de distribuição, com uma maior filtragem da rede de distribuidores.
Outra frente será trabalhar a internacionalização da Truss, que começou há um ano e meio com a entrada em 25 países. “Vemos bastante oportunidade de crescimento lá fora, porque o Brasil é visto como um grande inovador no segmento de cabelos,” disse ele.
Hoje a operação internacional do Boticário responde por apenas 3% do top line. Além das vendas da Truss lá fora, o grupo tem franquias da marca Boticário em 15 países da Europa e América Latina.
Grynbaum disse que a empresa avalia constantemente acelerar a expansão internacional, mas reconhece que “ir para fora não é fácil.”
“Colocar uma marca com destaque num país novo é algo muito complexo, porque você tem que responder de onde você é, quem você é, e depois disso o mercado ainda é muito competitivo. É algo que demanda tempo para fazer e um investimento grande,” disse ele. “Só vamos fazer algo maior se acharmos alguma oportunidade muito boa.”
Um IPO ou a venda de uma participação para um fundo de private equity também continua algo improvável.
“Nossa necessidade de investimento é suprida por capital próprio ou dívida, e estamos felizes do jeito que estamos,” disse Grynbaum. “Só faria sentido fazer algo se tivesse uma demanda estratégica muito relevante. Se surgir uma oportunidade transformacional.”