O Google vai parar de vender anúncios baseados no histórico de navegação dos usuários em múltiplos sites — um movimento que deve reverberar por toda a indústria de publicidade digital e remodelar a forma como os anúncios são vendidos. 

O anúncio foi feito hoje cedo pelo próprio Google, e as mudanças devem entrar em vigor ano que vem.

“Se a publicidade digital não evoluir para endereçar as preocupações crescentes que as pessoas têm sobre sua privacidade e sobre como sua identidade pessoal está sendo usada, vamos arriscar o futuro da internet aberta e gratuita,” escreveu David Temkin, o executivo que está liderando o projeto.

As mudanças são especialmente relevantes dado que o Google é o gorila do mercado de publicidade digital. 

A companhia foi responsável por mais da metade de todos os gastos com publicidade online do ano passado —  que somaram quase US$ 300 bilhões —  e tem o poder de influenciar as práticas de boa parte da indústria. 

Mais de 90% do tráfego da internet acontece no Chrome, o navegador do Google.

Mas ainda que o anúncio de hoje seja um avanço no campo da privacidade pessoal, ele não significa que o Google está banindo de vez os anúncios personalizados. 

As restrições se limitam aos chamados ‘cookies de terceiros’ —  ou seja, informações como o histórico de navegação e hábitos de consumo que são coletados dos diversos sites que o usuário acessa ao longo do tempo. 

As informações que os sites coletam diretamente do usuário (first-party data) continuarão sendo usadas na publicidade, permitindo que um site venda anúncios personalizados baseados na atividade de um determinado usuário — contanto que esses dados tenham sido gerados apenas dentro do próprio site. 

As mudanças não impedem também que um anunciante faça um anúncio direcionado no Youtube para um grupo específico de clientes sobre os quais o anunciante já tenha informações. Mas, pela nova política, o Google não poderá direcionar esses anúncios para essas pessoas quando elas estiverem em outros sites. 

A intenção de banir os ‘cookies’ de terceiros já havia sido anunciada pelo Google no início do ano passado. Hoje, a companhia foi além: disse que não vai construir nenhuma nova tecnologia que se assemelhe ao modelo atual e nem usar as desenvolvidas por outras empresas. 

A Apple já havia banido os ‘cookies’ de terceiros de seu navegador, o Safari, em março do ano passado. 

A mudança do Google vem num momento em que todas a Big Techs estão sob o escrutínio dos reguladores, enquanto diversas empresas de publicidade tem buscado formas menos invasivas de rastrear os usuários na internet. 

Segundo o The Wall Street Journal, um grupo de empresas de publicidade chamado ‘Partnership for Responsible Addressable Media’ está tentando usar outros identificadores (como sequências de números e letras derivadas do email dos usuários) para rastreá-los sem invadir sua privacidade. 

Mas o Google acha que “essas soluções não vão atender as expectativas crescentes dos consumidores em relação à privacidade ou as restrições regulatórias que têm evoluído de forma rápida.”

A empresa está trabalhando numa alternativa —  que ela chama de “privacy sandbook” e começará a ser testada em breve — que pretende direcionar os anúncios para um grupo agregado de usuários com interesses similares em vez de mirar em usuários individuais.  

Essa estratégia permitiria “esconder” os indivíduos em meio a uma multidão de usuários, garantindo a privacidade dos dados. 

SAIBA MAIS

‘The Social Dilemma’ alerta: redes sociais podem levar à guerra civil