NOVA YORK – Duas executivas veteranas falaram sobre os desafios de carreira num mercado de trabalho machista na 3ª edição do MBA Brasil, a conferência anual dos brasileiros que cursam as principais escolas de negócios americanas. 

Na edição deste ano, que aconteceu sábado na Columbia Business School, houve uma marcante presença feminina nos painéis. Elas falaram das realizações, estratégias de investimentos, trajetórias, diversidade – e, obviamente, de machismo e preconceito.

“Mulheres, mantenham sua essência – não queiram ser homens,” aconselhou Patricia Moraes, CEO da Unbox Capital, a gestora de venture capital fundada há seis anos por ela e Luiza Helena Trajano.

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Em sua carreira de mais de duas décadas como investment banker no JP Morgan em Nova York, Patricia contou que, por ser mulher, foi colocada de escanteio em alguns deals – e sua ascensão não foi tão rápida como poderia ter sido.

“Mas encontrei a minha maneira de me relacionar com os clientes,” disse.

De volta ao Brasil e fora da bolha de Wall Street, a executiva disse ter percebido que não “tinha sensibilidade para perceber certas coisas” da realidade brasileira e dos empreendedores com os quais passou a lidar.

“Trabalho todo dia para ser 360 – olhar todos os ângulos e me colocar no lugar dos outros,” disse ela. “Empreender é ser 360. Empreendedor que não for 360 vai quebrar.”

No mesmo painel, Claudia Sender, a ex-CEO da Latam e hoje conselheira de Embraer e Gerdau, concordou com Patricia. Disse que é necessário “entender a visão dos outros”, algo que não se aprende nas salas de aula de um MBA.

Claudia Sender

“Houve pessoas que me deram muito trabalho, mas as discussões nos ajudaram a tomar decisões melhores,” disse.

No tema inclusão e diversidade, ambas concordaram que houve avanços em relação ao ambiente que encontraram no início de suas trajetórias profissionais, apesar de ainda haver muito a ser feito.

Claudia relembrou episódios de machismo que viveu quando era CEO da Latam – cargo que assumiu quando tinha 38 anos – e do assédio de um cliente quando trabalhava na Bain & Company. 

Na época, ela se viu diante de uma decisão difícil: ficar calada e tolerar a situação ou romper com um cliente importante para uma consultoria que havia acabado de se estabelecer no País?

Decidiu compartilhar com os colegas homens e a partir de então combinaram que Claudia sempre tivesse uma outra pessoa ao seu lado nas reuniões com clientes homens.

O protocolo de “segurança psicológica” prosseguiu quando ela assumiu o comando da Latam – inclusive nas reuniões com autoridades em Brasília.

“Criar uma rede de apoio e pedir ajuda não deve ser visto pelas mulheres como um sinal de fraqueza,” disse Claudia.