Gérald Genta foi, acima de tudo, um rebelde.

Em uma época em que a alta relojoaria estava presa à tradição dos relógios de ouro, finos e discretos, ele ousou desafiar o status quo. Nos anos 1970, Genta concebeu o Audemars Piguet Royal Oak e, pouco depois, o Patek Philippe Nautilus, dois ícones que redefiniram por completo o conceito de luxo.

Sua genialidade foi enxergar beleza e sofisticação em algo até então impensável: relógios esportivos em aço, com design ousado, moderno, linhas geométricas e um espírito livre que rompia completamente com as convenções da época.

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Mas Genta não parou aí. Seguindo seu instinto criativo, fundou sua própria marca e voltou a desafiar o mercado, criando relógios com personagens da Disney e modelos em formatos inusitados, inclusive tonneau, uma ousadia artística que muitos chamaram de excentricidade mas que o tempo consagrou como visão de futuro.

Décadas depois, outro nome surgiria com a mesma irreverência e rebeldia: Richard Mille. Assim como Genta, Mille desafiou as regras da relojoaria tradicional.

Misturou engenharia automotiva de Fórmula 1, materiais de ponta, edições limitadas e um marketing agressivo, transformando suas criações em verdadeiras máquinas de medir o tempo, peças que surpreendem não apenas pela estética mas também pelo conforto no pulso.

Seu design em formato tonneau, com pulseiras de borracha, tornou-se uma assinatura da marca e um símbolo de ruptura que atraiu uma nova geração de colecionadores fascinados pela combinação entre tecnologia extrema, luxo contemporâneo e escassez.

Inspiradas por esses dois gênios, as grandes casas da alta relojoaria continuam reinventando seus legados. Fiel ao espírito rebelde de Genta, a Audemars Piguet expandiu o universo do Royal Oak com obras de arte em cerâmica, turbilhões, calendários perpétuos ultramodernos e movimentos ousados, além de colaborações com Cactus Jack (Travis Scott), John Mayer e outras parcerias que unem arte, música e performance.

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Já a Patek Philippe surpreende com modelos modernos, coloridos e limitados da linha Aquanaut, um relógio esportivo e confortável, inspirado de certa forma no Nautilus de Genta. Em 2024, apresentou um lançamento ousado, o Cubitus, mais uma vez inspirado na rebeldia de Genta. As primeiras versões, de 45 mm, dividiram opiniões, mas a marca rapidamente acertou o tom com a edição de 40 mm, lançada este ano: um modelo que dialoga com a nova geração, equilibrando tradição e modernidade. O Cubitus tornou-se um exemplo de harmonia perfeita, mantendo a elegância clássica e a alma esportiva, capaz de transitar com naturalidade entre o terno e a jaqueta casual.

O Nautilus, por sua vez, mesmo após a aposentadoria do aclamado 5711, segue evoluindo e ganhando novas formas de expressão, como a ousada versão moderna 5980 com cronógrafo e pulseira jeans, um tributo contemporâneo à rebeldia de Genta.

A alta relojoaria de hoje é uma conversa entre o passado e o futuro: a visão pioneira de Genta ecoa nas criações audaciosas de Richard Mille e continua inspirando marcas consagradas a explorar novos materiais, formatos e colaborações culturais.

Do Royal Oak ao RM 67-01, do Nautilus ao Cubitus, a relojoaria segue sendo uma arte guiada por mentes rebeldes, gênios que enxergaram no tempo não apenas algo a medir, mas algo a desafiar.

Dois visionários, duas épocas, mas uma mesma essência: a rebeldia que move o tempo.

Fabrício Almeida é sócio e diretor jurídico e de compliance da XP Inc – e um entusiasta por relógios.