George Soros está com 87 anos, mas mantém um idealismo de 20.
Semana passada, enquanto o Brasil discutia o preço do diesel, Soros lançou uma agenda de ideias “para salvar a União Europeia” – começando com uma campanha para a realização de um novo referendo no Reino Unido, visando reverter o ‘Brexit’.
É uma tentativa de Soros de influir em acontecimentos globais que vão contra tudo aquilo que ele sempre defendeu: a Sociedade Aberta e os ideais liberais e humanitários do filósofo Karl Popper.
Soros crê que a UE vive uma “crise existencial” como nunca antes na sua história. Estagnação econômica, ascensão de partidos nacionalistas, cerco a imigrantes, eurocéticos ganhando poder na Itália, desmoralização da aliança transatlântica com os EUA: tudo isso ameaça os ideais humanitários que levaram à criação do bloco.
O remédio seria um Plano Marshall – mas desta vez para a África, com uma injeção de € 30 bilhões por ano, por alguns anos. “É preciso reconhecer que a crise de refugiados é um problema europeu que precisa de uma solução europeia”, Soros disse ao anunciar sua proposta, em uma palestra no European Council of Foreign Relations em Paris. (Você pode ouvir o discurso aqui.)
“A EU tem um rating de crédito alto e sua capacidade de endividamento é subutilizada. Quando essa capacidade deve ser colocada em uso se não durante uma crise existencial? Ao longo da história, dívidas públicas sempre cresceram em tempos de guerra. Reconhecidamente, aumentar a dívida pública vai contra o atual vício de austeridade; mas a própria política de austeridade é um fator que contribui para a crise em que a Europa se encontra.”
Para Soros, ao invés de subornar ditadores africanos para que não deixem a população cruzar as fronteiras, os europeus podem usar esse plano para promover democracias africanas e com isso conter o fluxo migratório.
Não é de hoje que Soros investe para fazer a História caminhar para o ideal da Sociedade Aberta.
Americano de origem húngara, ele foi bastante influente na derrocada do comunismo na Europa Oriental no final dos anos 80 e início dos 90. Sua defesa dos imigrantes – há dois anos, doou US$ 500 milhões para iniciativas de impacto social e startups criadas por imigrantes – lhe rendeu uma briga com o primeiro ministro da Hungria, Viktor Orbán, que o acusou de inundar a Europa (e a Hungria) de muçulmanos.
No Reino Unido, o movimento ‘Best of Britain’, apoiado por Soros, já conseguiu uma vitória: a aprovação de uma medida que garante aos parlamentares o direito de votar os termos do acordo de saída da UE – medida que, em tese, abre a opção de não saída. A campanha pela realização de um novo referendo começa dia 8.
Na foto acima, Sebastião Salgado retrata a estação Churchgate, de Mumbai, em seu projeto Êxodo.