O CADE acaba de aprovar por unanimidade a compra das 13 fábricas da Marfrig no Brasil, Chile e Argentina pela Minerva — eliminando parte do overhang que pesava sobre a ação.
O único remédio aplicado pelo órgão antitruste foi exigir a venda da planta de Pirenópolis — o que, na prática, não terá nenhum efeito para a companhia.
Essa planta estava fechada desde 2010 e não tinha nenhum equipamento dentro. A própria Minerva já havia dito que não pretendia reabrir a operação.
A Minerva anunciou a compra dessas plantas em agosto do ano passado, pagando R$ 7,5 bilhões pelos ativos. A transação inclui ainda três fábricas no Uruguai, que precisam da aprovação do órgão antitruste local.
O mercado já esperava que o CADE aprovasse a operação, mas boa parte dos analistas projetava que isso acontecesse no final de novembro, o prazo máximo. Com a aprovação antecipada, a Minerva deve começar a operar os ativos ainda este ano — a estimativa da empresa é no final de outubro — o que deve adicionar dois meses de EBITDA incremental para a companhia.
Na época da compra, a Minerva estimou que as 16 fábricas adicionassem R$ 1,5 bilhão em EBITDA, considerando os números de fábricas próximas que a própria companhia opera.
“Mas as condições de mercado mudaram muito de lá para cá,” disse um gestor comprado no papel. “A rentabilidade está muito melhor, porque o preço do gado ficou estável, o preço da carne subiu uns 20% no mercado interno e os preços de importação estão 5% maiores em dólares, com um câmbio 12% a 13% mais depreciado.”
Essas mudanças no cenário podem aumentar o EBITDA dessas fábricas em R$ 150 milhões a R$ 200 milhões, na estimativa desse gestor.
Os números dessas fábricas, no entanto, ainda são uma incerteza para o mercado, já que a Marfrig divulgou um EBITDA bem diferente na época da transação.
Enquanto a Minerva projetou um EBITDA de R$ 1,5 bi, a Marfrig disse que as operações faziam EBITDA de R$ 750 milhões.
A diferença é explicada pelos interesses de cada uma. A Minerva quer mostrar que comprou um negócio com uma boa rentabilidade. Já a Marfrig — altamente alavancada — quer mostrar aos credores que a operação não vai tirar muito EBITDA de seu negócio, o que poderia fazê-la estourar seus covenants.
“Isso só vai ser tirado a limpo quando a Minerva começar a rodar essas plantas e divulgar o EBITDA delas separadamente,” disse outro gestor. “A aprovação do CADE ajuda a reduzir o overhang, mas ele só vai ser eliminado de vez quando esses números se tornarem públicos.”
Com a aprovação do CADE, a Minerva terá que desembolsar R$ 5,35 bilhões de imediato, corrigidos pelo CDI. Ela já havia pago R$ 1,5 bi na assinatura da transação e outros R$ 675 milhões só serão pagos se e quando a venda das plantas do Uruguai for aprovada.
A companhia já levantou o valor total da transação no ano passado com uma debênture coordenada pelo JP Morgan.
Após o desembolso, a estimativa é que a alavancagem da Minerva suba para entre 3,5x e 4x EBITDA. A empresa tem dito ao mercado que projeta levar esse indicador para 3x no final de 2025, com a geração de caixa da operação.
O órgão antitruste do Uruguai tem até dezembro deste ano para emitir sua decisão. Na primeira instância, o órgão havia rejeitado a transação. Após o recurso da Minerva, ele disse que só tomaria uma nova decisão depois que o CADE desse o seu parecer.