Em meio a um processo de aumento de capital e desconfiança por parte do mercado, a Oncoclínicas vai fazer um “back to basics”: os grandes projetos ficam no passado, e a empresa vai focar apenas em clínicas oncológicas e parcerias com hospitais.
O CEO Bruno Ferrari admite que apostar nesses modelos de cancer centers foi um erro e que já houve desinvestimento em dois dos três hospitais ‘build to suit’ da companhia – o terceiro está em fase final de negociações, segundo o CEO, que não abriu os valores nem os compradores.
Ferrari disse que o acordo para o desinvestimento foi que a Oncoclínicas entrasse como parceiro dos hospitais para atuar no ciclo oncológico, sem precisar fazer o capex nos ativos.
“É uma rota que está sendo corrigida. Se tivéssemos experimentado antes o modelo de parceria com hospitais, não teríamos entrado nesse setor,” o CEO disse ao Brazil Journal.
O megaprojeto de um cancer center na Arábia Saudita, feito por meio de uma joint venture com o grupo saudita Al Faisaliah, vai continuar, segundo o CEO.
Mas ele disse que a Oncoclínicas não vai realizar mais investimentos na construção e que isso resultará em uma diluição da empresa de 51% do negócio “para algo em torno de 30% a 35%”.
“Tomamos uma decisão em conjunto com os sócios de que eles vão continuar fazendo o resto de investimento, mas sempre foi nossa ideia fazer essa clínica como um modelo,” disse.
A ideia da Oncoclínicas é ampliar o modelo de revenue share que a companhia tem em parceria com o Grupo Santa, que uniu as clínicas de oncologia da empresa no Distrito Federal com quatro hospitais de alta complexidade e dois centros de imagem do grupo hospitalar.
Além disso, a empresa está passando um pente-fino em suas clínicas. Segundo Ferrari, a empresa vai fechar pequenas unidades e concentrar o atendimento em grandes clínicas – algo que já começou a ser feito em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
“Isso vai trazer uma eficiência operacional muito grande para nós, pois todas as clínicas terão o mesmo nível assistencial e poderão absorver os clientes das menores,” disse.
A empresa também está próxima de realizar o seu aumento de capital, e Ferrari disse estar otimista quanto à possibilidade de levantar os R$ 2 bilhões.
Segundo o CEO, há um forte interesse dos debenturistas em converter dívida em ações, o que deve ancorar a operação. “Essa vai ser a parte mais importante para nós, pois vamos melhorar a estrutura de capital da companhia,” disse.
Segundo o diretor de RI, Isaac Quintino, com o aumento de capital e as medidas de reestruturação adotadas, a alavancagem da Oncoclínicas deve cair de 4,4x para cerca de 2x em poucos trimestres.
Ferrari disse que os investidores devem já ver uma melhora nos resultados do terceiro trimestre.
“Passamos por muitos ruídos nos últimos trimestres, mas já será possível enxergar o resultado das medidas adotadas recentemente nos números,” disse o CEO.
Nas últimas semanas, o mercado especulou sobre a saída de Ferrari do comando da empresa – na esteira da proposta enviada ao conselho pela Starboard. Mas o CEO negou que esteja se afastando do cargo.
“Até me surpreendeu essa notícia, mas o conselho não só apoia, como me pediu para continuar à frente da companhia,” disse Ferrari. “E essa reestruturação vai mostrar ao mercado, aos médicos e aos funcionários o quão fortes continuam os fundamentos da Oncoclínicas.”