Aos 12 anos, David Feffer ganhou uma máquina fotográfica e dedicava boa parte de seu tempo livre à captura de boas imagens.
O interesse pelas fotos só crescia, e o garoto pediu que os pais construíssem um laboratório no qual pudesse revelar suas fotos.
Diante da negativa da família, David resolveu tocar a empreitada por conta própria. Foi ao centro de São Paulo em busca dos materiais e pintou de preto as paredes de um quartinho improvisado atrás da lavanderia da casa, transformando-o em um laboratório.
Revelava fotos de amigos, de casamentos, e experimentava luzes e sombras – até que o trabalho na Suzano o obrigou a abandonar a paixão.
Mas quase cinco décadas depois, o empresário ganhou de sua esposa uma câmera e foi retomando o gosto pelos cliques.
De volta a esse universo, em vez de montar um novo quartinho para revelar fotos, Feffer decidiu revelar novos talentos da fotografia, bem como valorizar o trabalho dos artistas já consagrados.
Esta é a gênese do Instituto ViaFoto, inaugurado nesta semana no Largo da Batata, em São Paulo, com a missão de dar à fotografia brasileira a estatura que ela merece como manifestação artística.
“O Brasil tem grandes fotógrafos, mas faltava uma casa da fotografia. O ViaFoto nasce para ser esse lugar,” Feffer disse ao Brazil Journal.
Mais do que um espaço expositivo, trata-se de um território vivo — mil metros quadrados dedicados a exposições, cursos, oficinas e experiências imersivas.
“Queremos que o ViaFoto valorize a fotografia ao mesmo tempo em que cria novas oportunidades de trabalho dentro desse campo,” disse Feffer.
A escolha do Largo da Batata não foi casual. A região, marcada pelo enorme fluxo de gente e transformações recentes, ecoa a própria natureza da fotografia: instável, mutável, capaz de capturar o instante e projetar futuros possíveis. Ao instalar-se ali, o instituto busca ser inclusivo.
“As pessoas que descem do metrô ou circulam nos arredores vão se sentir convidadas a entrar, sem intimidação,” disse o empresário, que preside o instituto. “E o grande colecionador também vai se surpreender.”
O projeto foi gestado ao longo de três anos. Feffer – que já se envolveu na criação de outras iniciativas como o Centro de Cultura Judaica, o Museu Judaico de São Paulo e o Museu da Imaginação – interagiu com nomes centrais da fotografia brasileira e internacional. Sebastião Salgado, por exemplo, visitou o espaço em fases distintas e deu sugestões que ajudaram a moldar o instituto.
Ao lado dele, fotógrafos, curadores e colecionadores contribuíram para dar densidade a uma proposta que se inspira em modelos internacionais, como o bairro de Wynwood, em Miami, mas busca uma identidade própria: um lugar de pertencimento, encontro e formação.
Essa vocação já se materializa na primeira exposição, Largo Entre Tempos Fotográficos, que reúne nove grandes nomes da fotografia brasileira em diálogo com jovens talentos.
Cada mestre apadrinha um fotógrafo em formação, e as obras são expostas lado a lado. “Queremos articular gerações e abrir caminho para novos olhares,” disse Feffer. Na exposição, há fotos de nomes consagrados como Bob Wolfenson, Caio Reisewitz, Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Claudio Edinger, Cristiano Mascaro, João Farkas, Maureen Bisilliat e Nair Benedict.
O ViaFoto estrutura sua atuação em dois eixos. O primeiro é o expositivo, com mostras que vão do fotojornalismo à arte contemporânea, passando por práticas experimentais.
O segundo é o de formação, com um Centro de Conhecimento que oferecerá cursos, workshops e rodas de conversa sobre técnica, crítica e história da fotografia. “Queremos seduzir pelo olhar como uma loja de doces seduz pelo olfato,” disse Feffer.
Para garantir a sustentação institucional, o ViaFoto conta com um Conselho Deliberativo de oito membros e um Conselho Artístico formado por José Olympio Pereira, José Roberto Marinho e Ricardo Steinbruch.
Além disso, uma equipe plural — que inclui advogados, artistas, gestores culturais e colecionadores — compõe o núcleo responsável pela operação diária. Feffer quer que o instituto “seja uma organização perene, de São Paulo para o mundo.”
Pensando no futuro, outros empresários e interessados pela fotografia serão procurados para formar um fundo patrimonial que permita não só a perpetuidade como também a expansão do ViaFoto.