Nos últimos quatro dias, as ações da Forjas Taurus, maior fabricante de armas do Brasil, estão em alta de mais de 90%, na esteira do crescimento de Jair Bolsonaro nas últimas pesquisas eleitorais.

A leitura de alguns investidores é simples: com a eleição de Bolsonaro, um defensor declarado da liberação do porte de armas, haveria uma flexibilização no Estatuto do Desarmamento – o que tende a estimular as vendas da Taurus no mercado interno.

Outro driver para a companhia gaúcha seria o provável aumento dos investimentos na segurança pública em um eventual governo do candidato do PSL.

Mas os argumentos não se sustentam de pé.

“É uma especulação sem o menor sentido. [Até porque] Os projetos de lei para revogar o Estatuto do Desarmamento viriam junto com o fim do monopólio da Taurus”, afirma Tiago Reis, fundador da casa de análise Suno Research. “A bancada da bala é confundida erroneamente com a bancada da Taurus, quando o que eles querem na verdade é fugir dela.”

Em inúmeras ocasiões – a última há menos de três meses – o próprio Bolsonaro declarou que se eleito acabaria com o monopólio da fabricante gaúcha, abrindo o mercado, no varejo e nas licitações públicas, para as importações de armamentos e munições. (Algo restringido hoje por um regulamento do Exército brasileiro e por uma portaria do Ministério da Defesa).

Para além da intenção de acabar com o monopólio, a família Bolsonaro é uma crítica feroz da qualidade das armas fabricadas pela Taurus – fato que já ressaltaram em declarações à imprensa e em diversas publicações nas redes sociais.

Além disso, a fabricante de armas enfrenta problemas graves relacionados a seus produtos, que levaram inclusive a processos judiciais movidos por consumidores. 

Há alguns anos, a companhia foi processada porque um disparo automático da arma teria causado a morte de uma pessoa nos Estados Unidos; e, no ano passado, o Ministério do Trabalho de Goiás chegou a proibir o uso de 2,5 mil armas da Taurus pela Polícia Militar do Estado. O motivo: o modelo em questão havia causado acidentes a 23 policiais da corporação.

Os casos são tantos que em 2016 uma associação foi criada – a Vítimas da Taurus – para reunir todos que sofreram problemas usando os produtos da empresa.

A disparada das ações ocorreu após uma recomendação da corretora Spinelli, que montou uma carteira de ações que poderiam se beneficiar com a eleição de Bolsonaro.

A Forjas Taurus é uma ação ilíquida, o que a torna particularmente sensível a variações bruscas. Vale R$ 300 milhões na Bolsa, negociou 114 mil ações/dia nos últimos 12 meses e não faz parte das carteiras de gestores profissionais.

Fundada em 1939, a empresa possui três fábricas no Brasil e uma nos Estados Unidos. A empresa é especializada na produção de armas leves e possui praticamente o monopólio da fabricação de armamentos no País (além dela só existe mais uma fabricante no mercado brasileiro, com uma capacidade produtiva bem menor).

Grande parte de suas receitas, no entanto, vem das vendas nos EUA (67%) e das exportações para outras setenta regiões. A desvalorização do real frente ao dólar e um aumento recente na venda nos Estados Unidos deram algum impulso aos resultados – e poderiam dar um alívio ao balanço da companhia, se o buraco não fosse muito mais embaixo. 

A Taurus tem apresentado prejuízos consecutivos desde 2012, sendo que nos primeiros seis meses deste ano a perda foi de mais de R$ 90 milhões. Além disso, possui uma dívida líquida de R$ 805 milhões e os passivos superam os ativos em R$ 510 milhões.

A empresa vem queimando caixa em um ritmo impressionante.

Em 2013, tinha R$ 280 milhões em caixa; montante que caiu para R$ 60 milhões dois anos depois; e que hoje é de apenas R$ 6,7 milhões.

Em sua última divulgação de resultados, a KPMG, que fez a auditoria dos números, questionou inclusive a capacidade de a companhia continuar operando. “Esses eventos e condições indicam a existência de uma incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional”, escreveu a consultoria.

No fim do ano passado, os papéis da Taurus já haviam sido alvo de forte especulação.

 

Após um relatório da casa de análise Inversa, que destacava o potencial de valorização da empresa com a possível revogação do Estatuto do Desarmamento, as ações da empresa subiram mais de 55% em poucos dias.

SAIBA MAIS:

Forjas Taurus: Suno alerta para especulação