A Ford anunciou que vai parar de fabricar automóveis no Brasil — um traumático divisor de águas que vai custar pelo menos 5 mil empregos diretos, a maior parte na Bahia.

A multinacional, que opera no Brasil há mais de um século, vai encerrar imediatamente sua produção em Camaçari e em Taubaté, onde fabrica o EcoSport, o Ka e a Troller T4. As vendas destes modelos serão descontinuadas assim que terminarem os estoques.

A montadora vai manter apenas a fabricação de peças por alguns meses “para garantir a disponibilidade dos estoques de pós-venda.” A fábrica da Troller em Horizonte, no Ceará, deve parar de operar no quarto trimestre deste ano.

Segundo a empresa, suas fábricas da Argentina e Uruguai passarão a abastecer o mercado brasileiro.

Obviamente, decisões dessa natureza obedecem a dinâmicas internas de cada empresa — especialmente numa indústria em que o supply chain é global, como na automotiva. Mas o fechamento da Ford vai forçar o Brasil a revisitar pela milésima vez toda sua complexidade tributária e trabalhista, que fazem do País um bom candidato a cortes dessa natureza.

O movimento vem em meio a uma reestruturação global da Ford, que está reavaliando todos os seus ativos e operações desde 2018 com o plano de executar um turnaround que deve custar US$ 11 bilhões para a empresa. A Ford quer aumentar sua lucratividade para chegar a uma margem EBIT de 8%, bem como aumentar sua geração de caixa.

Com os fechamentos no Brasil, a Ford prevê um impacto de US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes. Do total, US$ 1,6 bilhão está relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais e depreciação e amortização de ativos; o restante impactará diretamente o caixa e está ligado a compensações de funcionários, rescisões e acordos.

“Sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, o CEO da Ford Jim Farley disse num comunicado.

A Ford teve um prejuízo de US$ 386 milhões na América do Sul nos primeiros nove meses do ano passado. Em 2019, o prejuízo foi de US$ 704 milhões.