Cocaína e maconha hoje respondem só por uma pequena parte da receita do crime organizado – estima-se que 10%.

O que realmente financia as facções hoje é a venda de produtos e serviços, como acesso a internet, botijões de gás, cigarros contrabandeados, pães e até gelo.

“São produtos de péssima qualidade e mais caros, mas milhões de pessoas não têm alternativa,” Rodrigo Pimentel, o ex-capitão do Bope e roteirista de Tropa de Elite, disse no evento Follow the Money, promovido pelo Brazil Journal.

O que permite que a economia da bandidagem continue em expansão é o “domínio territorial, o grande filão do crime organizado”, disse Pimentel. “Apreender drogas é importante, mas só resolve parte do problema.”

Para ele, o domínio de extensas regiões do País por facções “aumenta a sensação de insegurança,” apesar do total de homicídios no Brasil ter caído.

“No Rio de Janeiro, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é a menor em 35 anos, mas a sensação do carioca é de que a vida dele é um inferno.”

Os três painéis do evento discutiram o avanço das facções sobre os negócios formais e possíveis soluções.

Entre os palestrantes, os governadores Ronaldo Caiado e Romeu Zema falaram sobre as ações que vêm adotando em seus estados para enfrentar o avanço do crime organizado (veja o painel completo).

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Em outro painel, Emerson Kapaz, que dirige o Instituto Combustível Legal, citou a fiscalização precária. Segundo ele, a ANP hoje tem apenas 20% do orçamento que tinha há cinco anos, e chegou a suspender a verificação da qualidade de combustíveis em alguns períodos por falta de recursos.

Para Pedro Turqueto, o CEO da Copa Energia, operações como a Carbono Oculto são importantes, mas prevenir que o crime organizado controle setores da economia é fundamental. “É como acontece com a nossa saúde: operamos quando necessário, mas não é o que queremos. Precisamos prevenir.”

 Alexandre Nogueira, o CEO da Light – uma das empresas que mais sofrem com os furtos de energia –, disse que a companhia vai começar a testar tarifas mais baixas em certas regiões do Rio para tentar reduzir os “gatos”.

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No último painel, Carlos Antônio Venturini, auditor-fiscal da Receita Federal, alertou os deputados federais Hugo Leal e Julio Lopes de que a Receita deveria ser incluída como um dos órgãos de segurança pública do País na PEC 18/2025, que trata do assunto.

Citando o nome do evento, Venturini lembrou que “quem follow the money é a Receita, e a Receita está fora da PEC.”

O alerta deu resultado. No dia seguinte ao evento, Lopes enviou ao relator da PEC, o deputado Mendonça Filho, um ofício pedindo a inclusão da Receita. “A presente proposição resulta das discussões ocorridas no evento Follow The Money, realizado em São Paulo-SP, no dia 1 de outubro”.

“Durante o painel de que tive a honra de participar, (Venturini) trouxe a relevante contribuição de que sem a Receita Federal e a capacidade de seguir o dinheiro, não é possível desbaratar quadrilhas e organizações criminosas de grande porte. Como se sabe, foi a Receita que conseguiu deter Al Capone, marco histórico da importância do rastreamento financeiro no enfrentamento ao crime organizado,” diz o ofício.

Os vídeos com todos os painéis estão sendo publicados no Brazil Journal.

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