No final dos anos 90, Wang Sen Feng — um chinês de Taiwan que emigrou para São Paulo aos 14 anos e se especializou em TI — recebeu um convite para criar um prontuário eletrônico para a área de reumatologia do Hospital das Clínicas, que até então fazia tudo no papel.
O projeto deu certo, outras áreas do hospital adotaram a tecnologia e Wang transformou a ideia num negócio.
Hoje, a Prontmed é usada por cerca de 7 mil médicos em todo o Brasil e já registrou mais de 10 milhões de atendimentos — acumulando uma base de dados estruturados de mais de 2 milhões de pacientes.
Agora, a startup acaba de receber uma rodada Série B liderada por dois dos maiores laboratórios do Brasil: o Fleury e o Sabin, que compraram 18% e 12% da empresa, respectivamente.
No entender dos laboratórios, o prontuário eletrônico da Prontmed se diferencia dos concorrentes por se adequar às necessidades de cada especialidade médica, com usabilidade e interface que facilitam o input de informações.
“Para dar a melhor experiência você precisa entender a fundo a cabeça e necessidade dos médicos e profissionais de saúde,” Lasse Koivisto, o outro sócio e CEO da Prontmed, disse ao Brazil Journal. “Conseguimos isso porque passamos 20 anos aprendendo junto com o HC o que cada especialidade precisa.”
Os recursos da rodada serão usados para expandir a base de usuários e lançar um novo produto: um sistema de ‘clinical decision support’ que será plugado à plataforma.
A ideia é cruzar os dados que os profissionais colocam no prontuário com os protocolos de evidência e melhores práticas de instituições de renome. “Com base nisso, o sistema vai poder dar recomendações em tempo real do que o profissional pode fazer em cada situação,” diz Lasse.
A parceria com o Fleury e o Sabin também faz parte de um esforço mais amplo da startup de se posicionar como uma provedora de dados estruturados — e não apenas um prontuário eletrônico.
Com clientes como o Hospital das Clínicas, Sírio Libanês, ECare e a Sociedade Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (que oferece o prontuário de graça para seus associados), a Prontmed pode usar sua base massiva de dados para ajudá-los, por exemplo, a melhorar o atendimento e reduzir desperdícios.
“Na medicina baseada em valor você precisa de um volume imenso de dados para tomar a melhor decisão. No Brasil, ainda estamos longe de ter isso… a saúde continua pouco integrada,” diz Lasse.
Para ganhar escala, a Prontmed quer entrar em outros segmentos da saúde. Hoje ela atua apenas na atenção primária e secundária, mas já estuda mercados como o de medicina ocupacional e home care. A meta de Lasse: chegar a 30 mil médicos nos próximos cinco anos.
Esta é a terceira captação da Prontmed. Em 2013, a startup fez uma rodada com a E.Bricks, 500 Startups e investidores-anjo como Romero Rodrigues, o fundador do Buscapé e hoje sócio da Redpoint eVentures, e Hyung Mo Sung, o ex-CEO da Zurich Seguros. Cinco anos depois, fez uma rodada bridge com os mesmos investidores para se preparar para o Series B.
Lasse — que fez carreira como analista de ações numa gestora — conheceu Wang quando decidiu fazer aulas de GO, o jogo de tabuleiro chinês semelhante ao xadrez.
Wang, que é apaixonado pelo jogo e já representou o Brasil no mundial, frequentava o mesmo clube de GO que Lasse, e os dois ficaram amigos. Em 2011, o chinês fez uma proposta irrecusável: daria aulas de GO de graça para Lasse em troca de uma consultoria semanal para a Prontmed.
Até agora, nenhum dos dois se arrependeu do acordo.