NOVA YORK – “O clima está meio deprê, sabe?” – disse um gestor de fundos na conferência do Bradesco BBI que reuniu dezenas de CEOs, CFOs e investidores aqui esta semana.
O problema não são as empresas.
“Companies are great,” disse outro gestor, lembrando que, no agregado, os lucros estão crescendo, o endividamento está controlado e os valuations estão nas mínimas.
Mas a penosa indefinição sobre a situação fiscal gera dúvidas sobre o futuro dos juros e do câmbio – e tem afastado o capital internacional que poderia financiar os investimentos que as empresas pretendem fazer.
“Os gestores que estão aqui olham globalmente, e há muitas oportunidades nos Estados Unidos. Eles não precisam investir no Brasil agora: preferem esperar para ver o que vai acontecer,” disse o CEO de uma das maiores empresas abertas do País.
“Já tem gente que desistiu e está olhando para janeiro de 2026. Se a dinâmica mostrar que existe chance de vitória de um candidato diferente de Lula e Bolsonaro, dá para ter esperança.”
Quem não desistiu ainda espera um pacote fiscal razoável neste ano. O número importa menos (até porque as estimativas do Governo nessa área têm se mostrado pouco confiáveis). A expectativa é por um plano consistente.
“O framework precisa ser sólido o suficiente para ficar vivo depois das eleições de 2026,” disse Fernando Honorato, o economista-chefe do Bradesco.
“Não pode ser algo tão restritivo a ponto de o Lula olhar, em 2025 e 2026, e dizer: ‘Não tenho recursos para investir e tocar a máquina pública, então chega’. E as despesas obrigatórias não podem crescer de maneira que não exista outra solução a não ser quebrar a regra.”
O cenário-base do Bradesco é de que o governo vai entregar um pacote razoável – mas isso leva tempo, inclusive porque algumas medidas dependem do Congresso e de mudanças na legislação.
“O desafio, para o investidor, é que é um cenário binário. Um bom pacote fiscal abre espaço para um bull market em 2025 porque significa que os juros podem cair antes do esperado,” diz Ben Laidler, o ex-JP Morgan e HSBC que o Bradesco BBI contratou este ano como estrategista-chefe de ações.
“Mas se isso não acontecer, o investidor estrangeiro pode perder muito dinheiro no câmbio. O mercado está tão contraído e barato que não é preciso haver boas notícias para as ações subirem. Basta não haver más notícias.”
Enquanto isso, as empresas – especialmente as que já se comprometeram a investir dezenas de bilhões de reais nos próximos anos, como as de infraestrutura – buscam alternativas para captar recursos.
Na CCR, essas alternativas incluem M&As e vendas de participações. O CEO Miguel Setas disse que pode vender “ativos maduros” em rodovias e buscar sócios nos segmentos de aeroportos e mobilidade urbana para investir no que for prioridade.
Setas vê R$ 190 bilhões em “investimentos em potencial” para a CCR nos próximos anos (mais detalhes numa entrevista exclusiva que o BJ publica amanhã).
É o mesmo desafio da Aegea, que busca recursos para investir nas concessões que já ganhou e participar de novos leilões (também vamos publicar uma entrevista com o CEO Radamés Casseb).
Nesse ambiente, foi apropriado o almoço que o Bradesco organizou com Benjamin Zander, maestro da Orquestra Filarmônica de Boston e co-autor do livro The Art of Possibility.
Entre uma música e outra, ele disse que “pensamento positivo é uma bobagem,” mas, com um pouco de esforço, é possível encontrar novas possibilidades em qualquer situação.