A ação da Embraer está voando, batendo recorde atrás de recorde nos últimos meses com uma enxurrada de encomendas e resultados acima das expectativas – mas parte do mercado ainda tinha uma reticência: a família E2.
Analistas e gestores apontavam que as ordens para o E2 – a segunda geração da família de aeronaves E-Jets, desenvolvida para modernizar a linha anterior – estavam escassas, resultando em uma baixa visibilidade para o produto nos próximos anos.
No ano passado, o E2 representou 64% das entregas de aviões comerciais da fabricante de São José dos Campos.
Mas esta semana, a reticência acabou.
A escandinava SAS anunciou a compra de 45 jatos E195-E2 (com opção de mais dez) – o segundo maior pedido de aviões E2 da história da Embraer, atrás apenas de uma ordem da canadense Porter Airlines em 2021.
“O E2 é o avião mais eficiente do mercado e isso está sendo cada vez mais claro,” o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, disse ao Brazil Journal.
A aeronave é até 13% mais eficiente em termos de consumo do que seu concorrente direto, o Airbus 220, disse o CEO.
Mas apesar desta eficiência, o E2 vinha tendo uma performance de backlog relativamente pior comparado às aeronaves da primeira geração.
O grande problema: o E2 enfrenta restrições nos Estados Unidos devido às scope clauses – os acordos trabalhistas que limitam o uso de aeronaves regionais acima de determinado peso e capacidade para proteger os empregos dos pilotos de grandes aeronaves.
Como o E2 teve menos encomendas nos últimos trimestres do que em anos anteriores, a dúvida sobre o tamanho da receita futura da área passou a rondar os relatórios do sellside.
Para completar, a maior parte das encomendas – com exceção da realizada pela Porter – eram bem menores que as encomendas do E1, que não enfrenta a limitação das scope clauses e é vendido principalmente para companhias aéreas americanas.
“Um pedido do tamanho desse da SAS acaba trazendo uma percepção de escalabilidade,” disse o analista Lucas Laghi, da XP.
O BTG disse que a encomenda da SAS é um divisor de águas para o E2. “A falta de pedidos do E2 talvez fosse o único ponto que impedia o show da Embraer de ser um grande sucesso,” escreveram os analistas.
Somando a encomenda da SAS a outra de 15 aeronaves feita pela japonesa ANA, a família E2 terminou o semestre com uma carteira de 60 ordens firmes – comparado a apenas 22 no mesmo período do ano passado – e o CEO disse estar otimista com a carteira de pedidos para o próximo semestre.
A boa notícia no E2 vem num momento em que a Embraer já voava em céu de brigadeiro.
O avião militar C-390, por exemplo, recebeu encomendas dos governos da Lituânia, Suécia e Portugal, enquanto no mesmo período do ano passado não tinha havido pedido algum.
A empresa também havia recebido uma ordem de 60 jatos E175 para a americana SkyWest, com a opção de mais 50, por US$ 3,6 bilhões.
Em fevereiro, a Embraer também recebera o maior pedido de jatos executivos da sua história: 182 Praetors e Phenoms para a americana Flexjet.
“Estamos muito confiantes de que vamos entregar o que prometemos, e que 2025 vai ser um ano de resultado ainda melhor que 2024,” disse o CEO. “Não estamos preocupados com o guidance, estamos afirmando o guidance.”
Ele disse que vê um potencial da Embraer alcançar um faturamento de US$ 10 bilhões até 2030.
Para 2025, a empresa espera uma receita líquida entre US$ 7 bilhões e US$ 7,5 bilhões – ante US$ 6,4 bilhões em 2024 – e entregas de 145 a 155 jatos na aviação executiva e de 77 a 85 no segmento comercial.
Nem mesmo os problemas de supply chain tiram o otimismo do executivo. Segundo ele, apesar da Embraer ainda enfrentar desafios pontuais – especialmente com motores, válvulas e partes da fuselagem – o cenário tem melhorado em relação a anos anteriores.
Para lidar com esses problemas e garantir as entregas, a empresa vem apostando em seu programa de nivelamento da produção, que busca estabilizar as entregas ao longo do ano. “Estamos agindo principalmente na entrega das peças mais críticas para recebê-las no momento certo,” disse.
O trabalho tem dado certo. No segundo tri, a Embraer entregou 61 aeronaves, 30% acima do mesmo período do ano passado.
A ação fechou ontem numa nova máxima histórica (R$ 83,14) e sobe 121% nos últimos 12 meses. A Embraer negocia a um múltiplo EV/EBITDA de 12x para 2026 – bem acima da sua média histórica, de 7,9x.
A Embraer vale R$ 61,5 bilhões na Bolsa.