A GranBio — uma empresa de biotecnologia que produz biocombustíveis avançados e nanocelulose — mandatou o UBS e o Citigroup para um IPO que deve levantar R$ 1,5 bilhão na B3 até o final do ano.
Várias empresas com planos ambiciosos de desenvolvimento de advanced biofuels ficaram pelo caminho — como a Abengoa, DuPont e a Poet (uma cooperativa de produtores de milho nos EUA e uma das maiores produtoras de etanol do mundo) — mas a GranBio é uma das sobreviventes.
Quando foi fundada, há quase 10 anos, a GranBio foi tachada pelos céticos como “uma ideia maluca de uma fábrica de Alagoas que nunca ia dar certo.” Hoje, é a única empresa do mundo, além da Raízen, capaz de produzir etanol de segunda geração com rejeitos agrícolas.
A GranBio tem três grandes linhas de negócio: a produção de biomassa e etanol de segunda geração no Brasil e nos EUA; a nanocelulose, que já começou a ser produzida na Geórgia, nos EUA; e o licenciamento de patentes e tecnologias para outras empresas.
Parte dos recursos do IPO será usada para acelerar a vertical de licenciamento, com um plano agressivo de expansão internacional.
“O licenciamento de tecnologia pode transformar a GranBio numa empresa de receita recorrente, que vende conhecimento sem precisar de capex,” o CEO Paulo Nigro disse ao Brazil Journal. “Podemos inclusive aportar a tecnologia em troca de equity em projetos promissores.”
Nigro, que foi CEO do laboratório Aché e da TetraPak no Brasil, assumiu o comando da GranBio em fevereiro. A GranBio é controlada pela família Gradin, antigos sócios da Odebrecht, mas hoje nenhum membro da família participa da gestão executiva. Miguel Gradin, irmão de Bernardo, é o chairman.
A GranBio está vindo a mercado num momento em que cada vez mais países criam mandatos nacionais para incentivar a substituição de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis. O mercado de etanol de segunda geração, por exemplo, deve crescer a 30 bilhões de litros/ano até 2035, segundo estimativas da indústria que levam em conta apenas os países que já criaram mandatos nacionais.
A companhia também deve se beneficiar da adoção de critérios ESG por parte de investidores institucionais.
Diversas companhias e países têm anunciado planos de se tornar ‘neutros em carbono’ até 2050 — e podem usar tecnologias da GranBio para alcançar essa meta. “Até uma petroleira como uma ExxonMobil, por exemplo, poderia facilmente licenciar a nossa tecnologia e começar a produzir energia limpa,” diz Nigro.
Uma das promessas da empresa é a nanocelulose, uma fibra que torna o cimento, o pneu e papelão ao mesmo tempo mais leves e resistentes.
A GranBio quer usar parte dos recursos do IPO para construir uma fábrica de nanocelulose que poderá, por exemplo, substituir o chamado ‘negro de fumo’ (carbon black), um derivado do petróleo usado na produção de pneus e que já foi banido em alguns países. A companhia está negociando com fabricantes de pneu mundiais.
Fundada em 2011, a GranBio passou anos em fase pré-operacional, desenvolvendo sua tecnologia e afinando as fórmulas. Parte dos esforços de P&D foram financiados pelo BNDES, que injetou R$ 600 milhões na companhia em 2013 entre equity e dívida, e pode vender parte de suas ações no IPO.
Em março, a GranBio estabilizou sua produção diária de mais de 100 mil litros de etanol de segunda geração e projeta produzir 3 milhões de litros por mês no ano que vem.
Considerando o preço do etanol de segunda geração em mercados como a Califórnia (US$ 0,80 por litro), a empresa estima uma receita de R$ 120 milhões para 2021 só com a venda deste produto. Somando também as outras verticais, a meta é faturar R$ 374 milhões ano que vem, incluindo receitas de licenciamento.
Nigro diz que a empresa deve entregar uma margem líquida de 25% já no ano que vem.
“Na próxima safra, já queremos ser lucrativos,” diz ele. “Melhoramos muito os índices de conversão de biomassa em etanol e estamos finalizando os processos de certificação para vender o etanol nos mercados mais rentáveis.”