Num projeto que deve transformar a área de Pinheiros onde fica o Largo da Batata, o empresário Abram Szajman fez um acordo com a Hemisfério Sul Investimentos (HSI) para desenvolver uma torre comercial de 40 mil metros quadrados e altíssimo padrão (triple-A).
O “Faria Lima 949” será um ‘trophy asset’ — um ativo único, no jargão imobiliário — que pode atrair para a ponta norte da Faria Lima o tipo de empresas que hoje se situam no trecho sul da avenida.
Na prática, o projeto cria uma ‘nova Faria Lima’, mas desta vez no eixo Pinheiros, uma região onde há pouca oferta de terrenos para desenvolvimento.
O acordo foi fechado em dezembro entre a VR Investimentos — o family office de Szajman, que fez fortuna com vales-refeição — e a HSI, a gestora imobiliária fundada por Max Lima. A conversa foi direta, sem envolver assessores.
“Esse projeto será um marco na cidade de São Paulo,” Ury Rabinovitz, o diretor financeiro da VR, disse ao Brazil Journal. As empresas não dizem o tamanho do investimento, mas fontes do setor estimam em R$ 700 milhões entre a obra e o custo do terreno.
Antes de fechar com a HSI, a VR conversou com os outros suspeitos de sempre para este tipo de empreendimento: a Brookfield Properties, a Tishman Speyer, a Fosun/Rio Bravo e a GTIS.
O terreno pertencia a diversos sócios cujas participações foram compradas gradualmente por Szajman, num processo que teve início há mais de dez anos. Inicialmente, a ideia era desenvolver um shopping, mas o projeto evoluiu para uma torre de altíssimo padrão.
Com uma fachada moderna, o empreendimento terá 20 andares, um número não determinado de garagens no subsolo e contará com uma praça aberta, que a conectará com o Largo da Batata. O diferencial de mobilidade urbana é claro: a estação Faria Lima do metrô fica logo embaixo, a área é cortada pela ciclovia da Faria Lima, e há um terminal de ônibus nas adjacências.
Com um perfil mais ‘descolado’ que o Itaim, a torre no Largo da Batata deve atrair startups e empresas de tecnologia que hoje estão em prédios de estilo neoclássico que pouco têm a ver com seu ‘zeitgeist’ da inovação. Para completar, muitos dos funcionários destas empresas moram em bairos como Vila Madalena e Alto de Pinheiros, nas cercanias do Largo da Batata.
As obras começam nas próximas semanas e a torre deve ficar pronta em meados de 2021.
“O mercado corporativo já vem se recuperando e, como uma das regiões mais premium do Brasil, a Faria Lima sempre foi vista como uma espécie de bolsão de proteção de capital pelos investidores,” diz Thiago Costa, sócio-diretor de aquisições da HSI. “O desenvolvimento de um produto de alto padrão com previsão de entrega em dois anos faz todo sentido nesse momento.”
Por sua qualidade, a torre vai ‘conversar’ com inúmeros projetos residenciais e de uso misto de alto padrão que estão desabrochando no trecho da Rebouças próximo à Faria Lima. “Como agora elas podem construir de um lado da Rebouças, as incorporadoras já estão vendendo a Rebouças como Jardins,” diz uma fonte do setor.
O projeto é do escritório americano Kohn Pedersen Fox (KPF), o mesmo que desenhou o Infinity, que fica na Leopoldo Couto de Magalhães e abriga o Credit Suisse e a Goldman Sachs, entre outros inquilinos. Em Nova York, o KPF está desenhando o Hudson Yards Redevelopment Project, uma área de 26 acres no West Side; na Ásia, o escritório está fazendo um terminal no aeroporto de Abu Dhabi e a torre de 660 metros do Ping An Finance Centre em Shenzhen, na China.
Apesar do Largo da Batata ter se gentrificado nos últimos anos, ainda assim a qualidade do projeto vai contrastar com a região. O edifício vai ladear a área de comércio popular na Rua Teodoro Sampaio.
“Um lugar que se chama Largo da Batata não é fácil ficar nobre”, brinca uma fonte do setor. “Precisa até mudar o nome. Não há nada mais popular que isso.”