Parte do mercado já esperava uma má notícia no balanço da Localiza, mas o que foi publicado superou as piores projeções.
Como resumiram os analistas do BTG Pactual, a empresa teve um trimestre “estranho, fraco e altamente poluído”.
A maior locadora de automóveis do País fechou o segundo trimestre com prejuízo de R$ 570 milhões, enquanto o consenso de mercado apontava para um lucro de R$ 655 milhões. O EBITDA foi de R$ 2,7 bilhões, 7% abaixo da expectativa. A receita, de R$ 9 bilhões, ficou em linha com o esperado.
A ação abriu em queda forte e perde mais de 15% no meio do pregão.
O resultado do segundo tri foi prejudicado por um impairment significativo no valor dos ativos, que gerou um impacto de R$ 386 milhões no EBITDA.
Esse ajuste foi provocado pelo aumento no valor da depreciação dos veículos e também pelas perdas causadas pelas inundações no Rio Grande do Sul.
Outras empresas do setor já haviam feito essas baixas, e o mercado esperava que a Localiza fizesse o mesmo – mas o volume ficou bem acima do previsto. (O Brazil Journal tratou deste assunto em junho, na coluna Long & Short.)
A depreciação total chegou a R$ 2,46 bilhões, mais que o dobro do reportado no primeiro tri e acima do esperado pelo JP Morgan (R$ 1,12 bi)
A depreciação por veículo chegou a R$ 20 mil no segmento de locação (bem acima dos R$ 6 mil do primeiro tri). Na gestão de frotas, ficou em R$ 12,2 mil (frente aos R$ 6,6 mil do trimestre anterior).
A dúvida agora é se esses ajustes serão suficientes ou se os problemas continuarão, dado que o mercado de veículos mudou muito no pós-pandemia.
O gap de preço entre veículos novos e usados, hoje entre 15% e 18%, continua acima da média histórica, que é de 12% a 15%. Além disso, há mais concorrência.
Na call com o mercado hoje de manhã, o CEO Bruno Lasansky divulgou pela primeira vez um guidance de depreciação para os próximos três trimestres.
Na locação de veículos, a estimativa varia entre R$ 6,3 mil e 7,7 mil por carro. Em frotas, vai de R$ 6,8 mil a R$ 8,5 mil. O guidance “não ajudou muito a dar previsibilidade. Esse spread faz muita diferença no valuation,” disse um gestor que não tem Localiza na carteira.
“A empresa está girando em torno desse problema da depreciação há um ano e não encontra uma solução,” disse esse gestor. “Diz que vai priorizar preço para ter mais retorno, mas isso pode reduzir a quantidade de clientes.”
No segundo tri, as tarifas de aluguel subiram 13% e o volume aumentou 3% na comparação anual, mas houve queda de volume (- 5%) frente ao primeiro tri.
Na gestão de frotas, o top line cresceu 27%, puxado por um aumento de 13% nos preços e de 12% no volume. Mas, tri a tri, o volume cresceu apenas 1,2%.
Depois do guidance de hoje, o sellside terá que rever os números para a empresa. Segundo o consenso Bloomberg, a Localiza negocia hoje a 10 vezes o lucro estimado para 2025 – contra uma média histórica de 20x.
Mas quando o mercado rodar o modelo de novo, este número vai subir – e as novas estimativas dependerão do novo nível de depreciação.