O jornal O Estado de São Paulo levantou R$ 160 milhões entre emissões de dívida e um aporte da família Mesquita – uma operação desenhada para fortalecer um dos jornais mais influentes do Brasil, conhecido por fazer o contraponto a governos à esquerda e à direita.
A SA O Estado de São Paulo, a empresa que controla o jornal, levantou cerca de R$ 142,5 milhões em duas emissões de debêntures junto a investidores institucionais e de private banking.
Uma das debêntures tem prazo de 10 anos, renovável por mais dez. Em vez de pagar uma taxa fixa, o papel dá a seu detentor uma participação de 12,5% na distribuição de lucros da empresa.
A outra dívida levantada é um título perpétuo, conversível em ações, e também remunerado com base nos resultados da empresa.
Alinhando-se aos credores, os 15 membros da quarta geração da família Mesquita aportaram R$ 15 milhões em dinheiro novo e cederam 10% de sua posição acionária na Agência Estado – o cash cow do grupo – para a empresa que controla o jornal e que está tomando a dívida.
Em dezembro, os Mesquita já haviam convertido em ações mais de R$ 100 milhões em créditos que tinham contra o jornal.
“O objetivo dessas transações é acelerar os nossos projetos de transformação digital, investir no nosso editorial e manter o Estado como uma empresa jornalística independente,” Francisco Mesquita Neto, o diretor-presidente do Grupo Estado, disse ao Brazil Journal.
Começando em 2019, o Estadão contratou consultorias, mudou seus sistemas de produção, de CRM e paywall, comprou ferramentas de tecnologia e recrutou equipes especializadas no digital.
“Agora vamos continuar investindo em novas tecnologias e contratar mais gente com experiência no mundo de conteúdo digital, editorial e processos,” disse Mesquita.
Apesar da destruição de valor que erodiu a imprensa tradicional nos últimos anos, o Grupo Estado terminou o ano passado com a alavancagem comportada de 1,1x EBITDA, em grande parte graças à conversão da dívida da família em equity.
Já a alavancagem da SA O Estado de São Paulo, a empresa que controla o jornal, é de apenas 1,3x. Não está claro, no entanto, quanto a empresa gera de caixa, ou as perspectivas para a geração de caixa em meio ao cenário incerto da mídia.
Fundado em 1875, O Estado de São Paulo é o mais longevo dos grandes jornais brasileiros. O jornal começou como um planfleto anti-monarquia e anti-escravidão, e se tornou um bastião da defesa de principios republicanos, da democracia e das liberdades individual e econômica.
O Estadão, como o jornal é mais conhecido, é o líder em circulação impressa, com uma média de 58 mil exemplares por dia no ano passado, segundo o IVC.
(O segundo é O Globo, com 56 mil, o Diário Gaúcho, com 45 mil, e a Folha de S. Paulo, com 44 mil exemplares/dia).
Além do jornal, o Grupo Estado abrange ainda a Agência Estado, a líder no mercado de notícias financeiras em tempo real.
O grupo fez uma receita líquida de R$ 518 milhões e um EBITDA de R$ 64,2 milhões no ano passado, quando o jornal fechou pouco acima do breakeven pela primeira vez desde a pandemia. (O jornal, sem a Agência Estado, faturou R$ 365 milhões e teve um EBITDA de R$ 22 milhões.)
No jornal, a receita com o impresso ainda representa 60% do todo, mas a perspectiva é que o digital iguale a receita do impresso nos próximos anos.