Algumas das maiores petroleiras do mundo continuam comprando ativos para fazer sua transição energética — e o Brasil tem se tornado um palco importante dessa estratégia.
Depois da francesa TotalEnergies comprar parques eólicos da Casa dos Ventos no ano passado, a Equinor (a gigante norueguesa anteriormente conhecida como Statoil) fechou este mês a compra da Rio Energy, uma geradora de energia eólica e solar.
A compra envolve ativos que somam uma capacidade de geração de 2 GW.
Desse total, apenas 223 MW já estão operacionais: o parque eólico Serra da Babilônia 1, que fica no nordeste da Bahia e está 100% contratado no mercado regulado.
O restante são três parques solares que somam 600 MW de capacidade e estão na fase de pré-construção; e um pipeline de projetos eólicos e solares somando 1,2 GW.
Apesar de ainda estar em construção, os três parques solares (São Conrado e Urca I e II) já estão praticamente 100% contratados, com boa parte da energia que será gerada nos próximos anos já vendida no mercado livre.
A Equinor comprou os ativos da Denham Capital, uma gestora londrina focada em transição energética que criou a Rio Energy do zero há 11 anos.
A Denham optou por vender agora porque seu fundo entrou na fase de desinvestimento. No final de 2019, a gestora chegou a considerar um IPO da Rio Energy, mas acabou desistindo quando a pandemia estourou.
Segundo uma fonte a par do assunto, a Denham já havia negociado uma venda com outros players do setor, mas engajou numa negociação exclusiva com a Equinor há seis meses.
A venda saiu a um enterprise value de cerca de R$ 3,5 bilhões, dos quais R$ 1,5 bilhão são a dívida dos ativos, uma fonte próxima à companhia disse ao Brazil Journal.
O valor foi atrativo para o vendedor — e mostra como o setor de energia renováveis está aquecido.
O valor pago implica um múltiplo EV/EBITDA de 13x para 2023, acima dos players listados do setor. A Omega Energia, por exemplo, negocia a cerca de 11,5x o EBITDA deste ano.
A Equinor disse que projeta uma TIR real de 4% a 8% para os ativos. (O ativo já operacional tem um TIR menor, enquanto os parques em construção e o pipeline de projetos têm uma TIR superior).
Para efeito de comparação, a Omega negocia a uma TIR real de cerca de 7% a 8%.
A Denham ainda reteve alguns ativos da RioEnergy somando mais 1,1 GW de capacidade – incluindo três projetos já operacionais de parques eólicos e solares e um pipeline ainda a ser executado.
A transação dá à Equinor uma plataforma relevante para a expansão nesse segmento no Brasil. Além dos ativos, ela também comprou a marca RioEnergy e levou 140 funcionários de áreas-chave como desenvolvimento de projetos e gestão.
A Equinor já tinha alguns poucos ativos de renováveis no Brasil, incluindo uma participação no complexo Apodi, no Ceará, com capacidade de geração de 162 MW, e no Mendubim, no Rio Grande do Norte, com capacidade de 531 MW.
Em março, a Equinor também anunciou uma parceria com a Petrobras para estudar a viabilidade de sete projetos de eólicas offshore que podem atingir uma capacidade de 14,3 GW.
A Equinor não é a única ‘major oil’ global investindo em ativos renováveis no Brasil. Em agosto passado, a TotalEnergies comprou 34% de uma joint venture que reuniu todos os ativos eólicos já operacionais da companhia brasileira.
Aquela JV foi avaliada num enterprise value de R$ 12,4 bilhões.
Bank of America e Itaú BBA assessoraram a RioEnergy.
A Equinor não trabalhou com assessores financeiros.