A Equatorial acaba de vender duas linhas de transmissão de energia para o fundo canadense de pensão CDPQ — fortalecendo seu balanço às vésperas de seu investimento na Sabesp.

A companhia disse hoje que vendeu a SPE7, um de seus oito ativos de transmissão, por um enterprise value de R$ 1,2 bilhão.

O ativo fica localizado no Pará, tem uma dívida líquida de cerca de R$ 350 milhões e engloba duas linhas de transmissão que somam 129 quilômetros, além de duas subestações. A concessão vence em 2047. 

As linhas e subestações já estão operacionais, e a receita anual permitida (RAP) para o ciclo 2023-2024, que começou em julho passado, é de R$ 125 milhões. A margem EBITDA da operação gira em torno de 90%.

A venda fortalece o balanço da Equatorial às vésperas do investimento massivo que ela terá que fazer na Sabesp. A companhia fez a única proposta para entrar como investidor estratégico na companhia de saneamento, propondo pagar R$ 67 por ação por 15% da Sabesp.

Isso deve representar um desembolso de quase R$ 7 bilhões para a Equatorial, que fechou o primeiro tri como uma dívida líquida de R$ 36 bilhões, uma alavancagem de 3,3x EBITDA.

Além de evidenciar a liquidez de seus ativos de transmissão, a transação mostra que a Equatorial tem alternativas para levantar capital para além de uma nova emissão de ações. “Não existe bala de prata nesse negócio. Ninguém vai financiar isso [a Sabesp] com 100% dívida ou 100% equity,” uma fonte próxima a companhia disse ao Brazil Journal.

A Equatorial está no processo de levantar um empréstimo-ponte de R$ 5,5 bilhões e prazo de 18 meses com um grupo de 4 bancos — dando à companhia tempo para analisar outras avenidas de funding.

Quando comprou a CELG-D, por exemplo, a Equatorial financiou parte da transação com uma estrutura de dividendos preferenciais em uma de suas subsidiárias — uma alternativa que pode ser usada novamente. 

No final de abril, pelo segundo ano consecutivo, a companhia também fez um aumento de capital privado, o que a permitiu reter cerca de R$ 500 milhões em caixa, com o acionista recebendo o dividendo em ações. 

A Equatorial também disse ao mercado que, numa conta gerencial pro forma, sua alavancagem subiria de 3,3x EBITDA no final do primeiro tri para 3,7x com a compra da Sabesp — ainda bem abaixo dos 4,5x dos covenants da dívida. (O próprio lucro da Sabesp ajuda na desalavancagem da Equatorial.) 

A XP disse que viu a transação de hoje como positiva para a Equatorial, já que ela terá que aumentar sua alavancagem com o investimento na Sabesp e “alguma reciclagem de capital como essa é necessária.”

Nas contas da XP, a transação saiu a cerca de 10x EBITDA, “o que parece bom dado que o ativo vendido não tem oportunidades de crescimento enquanto a recente aquisição da Equatorial [a Sabesp] tem.”

Na transação de hoje, o CDPQ vai pagar R$ 710 milhões do equity value no fechamento da transação e os R$ 130 milhões restantes em parcelas mensais e com um earnout, que vai depender do atingimento de algumas metas não reveladas. 

A transação de hoje vem sete meses depois da Equatorial ter vendido outro ativo de transmissão para o CDPQ.

Em novembro, a companhia vendeu a Intesa, uma de suas subsidiárias que opera 695 quilômetros de linhas de transmissão no Tocantins e Goiás, por um enterprise value de R$ 714 milhões. 

A venda foi feita para a Verene Energia, uma empresa controlada pelo CDPQ e que tem feito diversos M&As para crescer no setor de transmissão no Brasil. 

A compra de hoje foi feita pela Infraestrutura Energia, que é controlada pelo CDPQ e que, por sua vez, controla a Verene.

A ação da Equatorial opera em alta de 2% no início da tarde com o papel cotada R$ 34,4. A companhia vale R$ 38,5 bilhões na B3.