O Brasil está acendendo um rastilho de pólvora que trará consequências trágicas para o nosso futuro, com uma explosão que abalará toda a nossa sociedade se não tomarmos medidas urgentes. Basta interpretar os números da última PNAD, do IBGE, referentes ao 2º trimestre.

Quando nos assustamos com o alto índice de desemprego, que aumentou com a pandemia, não nos atentamos que a soma do número de brasileiros fora do mercado de trabalho e daqueles que não contribuem com a previdência é muito maior do que os 13 milhões de desempregados.

Conforme os dados da PNAD, a nossa população é de 213 milhões de habitantes. 

Destes, cerca de 40 milhões não entram na conta da Força do Trabalho por questões de idade, como crianças de até 14 anos e idosos. Temos, ainda, 77 milhões que não estão procurando emprego e não constam como desempregados (invisíveis). Para fechar a conta dos não contribuintes com o sistema previdenciário, temos mais de 32 milhões de brasileiros que trabalham sem carteira assinada ou não têm CNPJ (autônomos).

O que sobra para contribuir com a Previdência Social são 51 milhões de empregados e empregadores formais dos setores público e privado. 

Vejamos o quadro abaixo.

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Basta uma análise dos números acima para entendermos a situação insustentável que enfrentaremos em breve: uma gigantesca legião de pessoas sem assistência e sem renda no momento mais delicado de suas vidas, em que necessitarão do auxílio social do governo.

Estamos falando de um contingente de pessoas que equivale às populações da Inglaterra, Espanha e Portugal somadas, sem trabalho e sem futuro. E não precisamos de bola de cristal para prever o caos social que essa situação irá gerar. Afinal, como o Estado dará conta dessa multidão de desalentados?

Já estamos mais que atrasados para iniciar uma correção de rota e não existe uma solução a curto prazo, mas sim uma série de reformas que possibilitem a retomada consistente dos empregos no país.

A Reforma da Previdência, realizada no ano passado, não trará nenhum resultado caso não sejam realizadas reformas estruturantes que resolvam a raiz desse grave problema, que não foi causado pela pandemia, mas, certamente, agravado por ela.

O país tem que simplificar brutalmente seu sistema tributário, tem que atacar a burocracia que sufoca tanto a pequena quanto a grande empresa, tem que redesenhar o Estado e suas prioridades, e — é preciso colocar o dedo na ferida — muitas profissões que hoje pagam impostos risíveis (graças a isenções oportunísticas) terão que colocar a mão no bolso e começar a contribuir de fato com o Brasil.

Estes são apenas alguns passos dos muitos que precisamos tomar rapidamente para não enfrentarmos, num futuro não tão longínquo, uma situação de verdadeiro caos social, que, tenho certeza, não interessa a ninguém. É uma questão de sobrevivência para todos, de todas as classes, de todos os negócios, pequenos, médios e grandes. Sem emprego não há consumo, não há varejo, não há indústria, não há serviços públicos e privados, não há impostos, não há uma verdadeira nação.

Além de tudo, é uma questão de consciência, de humanidade. Como escreveu Gonzaguinha, “E sem o seu trabalho, o homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz!” 

Marcelo Silva foi presidente do Bompreço, Casas Pernambucanas e Magazine Luiza.  Hoje lidera o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e é membro do conselho de várias empresas.