A SL Tools — o marketplace que está tentando tirar o aluguel de ações do mercado de balcão — acaba de fechar um contrato com a B3 para usar seus serviços de clearing e custódia.
A transação marca a primeira vez que a B3 fecha um contrato do tipo.
Em 2016, quando a B3 (na época BM&F Bovespa) se fundiu com a Cetip, o CADE exigiu que ela disponibilizasse sua clearing para qualquer integrante do mercado. Em 2019, a ATS chegou a fechar um acordo com a B3 para usar esse serviço, mas o negócio acabou não indo adiante.
Um monopólio de fato, a B3 está disponibilizando parte de sua infraestrutura para permitir a concorrência, mas o movimento acontece às vésperas de um grande tsunami prestes a atingir todo o mercado financeiro: o uso massificado do blockchain.
André Duvivier, o fundador da SL Tools e um ex-trader da Merrill Lynch, disse ao Brazil Journal que a integração com a B3 dará mais eficiência porque elimina uma etapa do processo.
Antes da integração, quando uma gestora alugava uma ação no marketplace da SL Tools, a fintech executava a ordem, mas tinha que transitar essa ordem no marketplace da B3 antes de enviar para a clearing. Agora, a ordem executada na SL Tools vai direto para a clearing.
“Isso permite que os clientes aproveitem melhor a nossa tecnologia e que a SL Tools ofereça tarifas diferenciadas da B3 e mais atrativas,” disse André. “A gente passa a ter flexibilidade para mexer com as taxas e incentivar o mercado.”
Nas operações eletrônicas, a B3 cobra 20% sobre a taxa de aluguel, dos quais 10% são pelo serviço de negociação e o restante pelo pós-negociação (clearing e custódia). Ao se integrar com a B3, a SL Tools ficará com esses 10% da negociação.
Com as melhorias, a SL Tools espera atrair mais usuários para sua plataforma — estimulando a migração dos aluguéis de ações do ‘mercado de balcão’ para o eletrônico.
Hoje, mais de 80% das operações de aluguel de ações ainda são feitas no ‘balcão’ — ou seja, o cliente precisa ligar ou mandar um email para a corretora, que vai atrás de alguém interessado em fechar o negócio.
“Só essa migração representa um ganho gigantesco para as gestoras, porque a taxa de emolumentos do mercado de balcão é 30% contra os 20% do eletrônico,” disse ele. “Os investidores não migraram até agora porque a tecnologia não era boa.”
Segundo ele, essa redução de tarifa representa um ganho adicional de R$ 130 milhões por ano para as gestoras que operam esse tipo de ativo.
“Tem gestora que tem R$ 1,5-2 milhões de reais pra ganhar por ano só com essa migração. É algo bem relevante.”