Domingo passado, Gisele Fetterman deu um pulinho no supermercado para comprar kiwis dourados, sua fruta favorita, num pacato subúrbio de Pittsburgh, na Pensilvânia.
 
11182 54122fd0 74bf 61be fde7 8c7c7467414eJá estava na fila do caixa quando uma mulher desconhecida começou a xingá-la, chamando-a de “ladra”, de “n***gger” (o xingamento favorito dos racistas americanos) e dizendo que ela “não pertence” ali, um comportamento cada vez mais comum nos EUA nos últimos anos.
 
Chorando e tremendo, Gisele saiu do supermercado e entrou no carro. Mas, possuída como um Chuck, o brinquedo assassino, a mulher ainda a perseguiu no estacionamento, continuando o assédio, que Gisele filmou com o celular.
 
O episódio não ganharia notoriedade não fosse por um detalhe:  Gisele é casada com o vice-governador da Pensilvânia, John Fetterman.
 
Morena e com longos cabelos pretos, Gisele Barreto Fetterman não nasceu nos EUA. Carioca, emigrou para lá nos anos 90 com a mãe e o irmão mais velho. Tinha sete anos.
 
“Desde quando meu marido foi prefeito da nossa cidadezinha [2005-2019], recebo dez vezes mais ofensas de pessoas de fora da comunidade do que ele, que recebe mensagens de Republicanos infelizes com alguma lei”, Gisele disse ao Brazil Journal. (O marido é Democrata.)
 
Os ataques pipocam nas redes sociais, por email e até por carta: 90% deles, segundo ela, são por causa de seu status de imigrante, e 10% (pasmem) por causa de suas sobrancelhas “étnicas”.
 
Mas o episódio de domingo foi o primeiro cara a cara.
 
A América como a conhecemos, fundada na ideia de acolhimento dos “pobres e famintos” inscrita na Estátua da Liberdade, está sendo cada vez mais questionada.
 
O ataque a Gisele não é um caso isolado.
 
Em 2018, o último ano contabilizado, ocorreram mais de sete mil crimes de ódio nos EUA na categoria single-bias — ofensa motivada por um tipo de preconceito.  No topo da lista, ataques relacionados à raça, etnia ou ancestralidade da vítima.
 
“O apoio que recebi dos americanos e da imprensa esta semana é uma validação de que o povo aqui é bom, e esta mulher é apenas uma minoria — mas é uma minoria que grita muito alto”, diz Gisele.
 
Formada em nutrição, mãe de três crianças e criadora de três ONGs (que lidam com insegurança alimentar, pobreza e empreendedorismo feminino), a “segunda-dama” do Estado normalmente deixa sua casa protegida por seguranças. No domingo, como era apenas uma ida rápida ao supermercado, não quis incomodá-los.
 
Em diversas entrevistas na TV esta semana, Gisele disse que o ataque a remeteu à infância, quando sua família vivia ilegalmente e ela temia que a imigração aparecesse a qualquer momento para deportá-los.
 
Mas sua resposta ao ataque foi o que os americanos chamariam de um ‘class act’.
 
Ao colocar o vídeo no Twitter, Gisele pediu: “Se vocês sabem quem essa mulher é, se ela for sua vizinha ou parente, por favor, ensinem-lhe o amor.” A agressora já foi identificada pela polícia, mas Gisele não quer levá-la à Justiça. Prefere apostar na sua reabilitação.
 
Na foto abaixo, o tamanho do susto
 
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