Com a probabilidade cada vez maior do El Niño acontecer nos próximos meses, o Santander decidiu analisar o impacto que o fenômeno meteorológico teria para as empresas brasileiras listadas na Bolsa.

A conclusão: enquanto o evento beneficiaria alguns setores, como o de utilities e agronegócio, outros poderiam sentir um vento contra, principalmente o setor financeiro e de transportes e portos.

Antes, um glossário sobre a força da Natureza.

O El Niño é um evento meteorológico que acontece tipicamente de seis em seis anos e causa um aquecimento anormal da água da superfície do mar na região do Pacífico na altura da linha do Equador. Isso muda a circulação atmosférica, gerando mudanças severas nas condições meteorológicas, com chuvas fortes e enchentes em algumas regiões e secas em outras. 

Segundo a NOAA, a agência americana que monitora os oceanos, a probabilidade do El Niño acontecer entre os meses de maio e julho deste ano é de 82%. Nos meses seguintes, a chance é ainda maior. 

No Brasil, o El Niño causa um aumento da temperatura, principalmente entre o final do inverno e o começo do verão. O nível de chuvas tende a reduzir no Norte e Nordeste e aumentar no Sul, enquanto os ventos aumentam nas primeiras duas regiões e reduzem na última. 

No Sul, o El Niño pode ajudar ou atrapalhar a lavoura. Se as chuvas forem muito fortes e durarem muito, tendem a prejudicar as colheitas por conta das inundações e por deixar o solo encharcado. Mas se forem moderadas, tendem a aumentar a produtividade do agronegócio.

Além disso, nos anos em que o El Niño acontece, a chuva forte tende a atrapalhar as operações da Rumo indo para Santos, o que historicamente leva a um aumento de 2,6 pontos percentuais no preço do frete de grãos por caminhão no trecho Rondonópolis-Santos, segundo o banco. 

“A maior incidência de chuva na região do Porto de Santos também pode afetar as operações de carga e descarga dos barcos, dado que o processo não pode ocorrer com chuvas fortes. Esses dois pontos podem ser negativos para a Rumo mas positivos para a Hidrovias do Brasil.”

Outro impacto – este, bom para a São Martinho e a Jalles Machado – é que o El Niño costuma prejudicar a produtividade da cana de açúcar, especialmente na Índia, o que se traduz num mercado mais apertado e faz o preço do açúcar subir. (A Raízen também se beneficiaria em princípio, mas já hedgeou 85% de sua produção deste ano.)

As chuvas também costumam derrubar o preço spot da energia, mas desta vez o impacto deve ser limitado, já que os preços já estão no bottom do range histórico, independente das condições climáticas. “Para os preços futuros de longo prazo, no entanto, nossas projeções mostram que se as altas temperaturas e baixas chuvas no Sudeste se materializarem, o impacto pode ser positivo.”

Para as empresas do setor, no entanto, o maior impacto vai vir do aumento dos ventos nas regiões Norte e Nordeste, que deve beneficiar as geradoras de energia eólica. Na análise do Santander, a empresa que mais deve sentir esse vento a favor é a Omega, seguida pela AES Brasil, Auren e CPFL. 

No agronegócio, o Santander analisou o impacto nas colheitas de soja e milho, e no preço do açúcar. Segundo o banco, o impacto varia dependendo da região. 

“O maior efeito na produtividade deve ser visto no Sul, onde, nas nossas estimativas, haverá um aumento de 19 a 24 pontos percentuais na produtividade de soja e milho com as colheitas se favorecendo do nível de chuvas,” escreveu o analista. “Já o Nordeste é o mais impactado negativamente, com uma queda de 4 a 22 pontos percentuais na produtividade.”

O Santander nota ainda que os maiores níveis de chuvas também podem prejudicar o fluxo logístico da cadeia de suprimentos, afetando a produção do setor automotivo e impactando negativamente locadoras como Localiza, Movida e Vamos. 

O El Niño também tende a prejudicar o PIB global, o que impactaria multinacionais brasileiras como a WEG, Iochpe-Maxion e Tupy. 

Outros setores impactados negativamente são o de construtoras, já que as condições climáticas podem afetar a execução dos projetos; e o setor financeiro e de seguros, em especial o Banco do Brasil, a BB Seguridade (que retém 20% do risco nos seguros agro) e o IRB.