Depois que o juiz encarregado de seu caso mostrou pertencer ao lado negro da força — fazendo test drive num carro de luxo (alheio) e violando descaradamente o Sétimo Mandamento — Eike Batista saiu da prostração e achou um novo ânimo.
Numa entrevista ao Valor de terça-feira, Eike fez o mesmo mea culpa que o Brasil espera da Presidente Dilma em relação à sua política econômica no primeiro mandato. “O responsável sou eu,” disse o Mr. X. “Confesso que errei.”
E, nos últimos dias, pessoas próximas a Eike começaram na internet um esforço para mostrar o seu lado humano.
Infelizmente, os fatos do passado continuam a, como diria o empresário anglófono, “fazer catch up” com ele.
A CVM ontem multou o ex-bilionário e empreendedor extraordinaire em 1,4 millhão de reais porque o empresário não prestou informações adequadas aos investidores de suas empresas, violando a legislação que dispõe sobre ‘fatos relevantes’.
Em um dos processos julgados ontem, Eike foi acusado de ter mantido os investidores no escuro sobre as negociações para a venda da MPX para a E.ON.
Eike não informou aos acionistas, mas aparentemente contou tudo em casa.
Em “Tudo ou Nada – Eike Batista e a verdadeira história do grupo X” (Record; 546 páginas; R$ 55 ), Malu Gaspar mostra que Eike compartilhou a informação com Luma de Oliveira e Flávia Sampaio, respectivamente a ex- e a atual senhora Eike Batista.
Na página 326, Gaspar conta:
“Em fins de 2011, coubera aos executivos da MPX descobrir que o chefe cometera mais uma inconfidência. De uma hora para outra, no final de novembro, a ex?, Luma de Oliveira e a atual, Flávia Sampaio, haviam começado a comprar ações da empresa de energia. Entre os dias 22 e 28, Luma adquirira 508.600 ações da empresa — a 10 reais cada. Praticamente ao mesmo tempo, Flávia comprara 41.900 ações.
A movimentação acendeu o alerta na companhia. Além do próprio Eike, só alguns poucos diretores da MPX e da holding sabiam que, naquele exato momento, o grupo estava bem próximo de fechar a venda de 11,7% da empresa — por 1 bilhão de reais — para a alemã E.ON. O anúncio da operação deveria acontecer em breve e decerto elevaria o valor das ações da companhia na bolsa.
Quem tivesse os papéis na mão apuraria um bom lucro com sua venda. Ocorre que usar uma informação privilegiada para ganhar na bolsa, em detrimento de outros investidores, é crime. Portanto, competia à direção da MPX alertar seu controlador para o perigo de que as duas fossem pegas. Ao ser avisado, contudo, Eike não demonstraria espanto ou indignação.
Disse apenas que lhes ordenaria para que não vendessem as ações, de modo a não dar margem a uma acusação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Se a determinação foi dada, porém, uma das duas não a obedeceria totalmente.
Flávia manteve os papéis, mas Luma, em 9 de fevereiro de 2012, negociou 180.700 ações da MPX a 12,70 reais cada e obteve, na operação, um lucro de 27% sobre o que desembolsara em novembro. Mais à frente, em 31 de maio, venderia outro lote, no entanto a 10 reais, o mesmo patamar em que comprara — sem lucrar, portanto. Ao menos, nada perdera — o que, naquele caso, já era muito bom. Dali em diante, afinal, as ações da companhia só cairiam.”