A Assembleia Legislativa de São Paulo jamais vai se recuperar perante a opinião pública se puser panos quentes no episódio em que um deputado colocou suas mãos ao redor do peito de uma colega  à luz do dia, em frente às câmeras, sem o menor constrangimento.

Os deputados que fizerem vista grossa a este comportamento serão cúmplices de uma violência endêmica que precisa, finalmente, ser cortada pela raiz.

A violência contra a mulher não exige um estupro; ela acontece diariamente nos pequenos grandes gestos de desrespeito e desumanização.

Seria interessante ver a reação do deputado Cury se um homem tocasse a sua própria mulher da mesma forma que ele tocou a deputada. Ou, ainda, se um colega homem o encoxasse por trás.

É estarrecedor que, depois de tudo que o mundo aprendeu com o movimento #MeToo, o deputado Cury ainda trate o corpo de uma colega como objeto.

A época de se aceitar desculpas esfarrapadas já passou. Os que insistem neste comportamento precisam ser expulsos, execrados e feitos de exemplo.

São Paulo não poderá continuar se achando melhor ou mais sofisticado do que o estado com o menor IDH da Federação se sua Assembleia Legislativa permitir que esse comportamento abjeto permaneça impune.

Lideranças empresariais, que têm se desdobrado para abraçar uma agenda ESG, precisam cobrar o mesmo dos deputados, esses funcionários públicos temporários que muitas vezes se acham patrões. Não fosse a pandemia, deveria haver marchas em frente à ALESP.

Muitos políticos usam palavras grandes como FAMÍLIA, VALORES e FÉ, mas contam-se nos dedos de uma mão os que reagiram sem ambivalência e com a indignação necessária. Pior ainda: segundo a Folha, vários deputados foram ao gabinete do agressor se solidarizar com ele.

Que ambiente é esse que normaliza esse tipo de conduta? A ALESP é a sarjeta da sociedade?

Já não bastasse este ano desgraçado, em que a pandemia semeou tanta tristeza, o Deputado Cury e suas mãozinhas covardes ainda obrigam a opinião pública a se mobilizar em mais uma frente:  para combater um comportamento que é a realidade diária da mulher brasileira que pega o ônibus e o metrô.

Se não houver Justiça para uma deputada da ALESP, não haverá esperança de Justiça jamais para as brasileiras anônimas, sejam elas nossas mães, irmãs ou filhas.

A civilidade no Brasil está cada dia mais sob ataque.  Essa cena patética é só o último sintoma.