Em duas cartas que acabam de ser publicadas, a Dynamo explica sua tese de investimento no Mercado Livre (MELI).
Uma das gestoras de ações mais respeitadas do País, a Dynamo, que tem cerca de R$ 8 bilhões sob gestão no Brasil, começou a comprar uma participação no MELI no início de 2016. Hoje, a gestora tem 1,38% da companhia.
Na primeira carta, a Dynamo narra a trajetória do Mercado Livre — desde sua fundação numa garagem em Buenos Aires — assim como o primeiro contato da gestora com a companhia na época de seu IPO, que levou a um pequeno investimento — flipado em uma semana com a escalada dramátoca do preço da ação.
A Dynamo diz que o MELI tem atributos presentes nas boas companhias longevas, já provadas pelo tempo: “decisões orientadas para o longo prazo e tomadas com base em análises profundas, em ‘intuições bem fundamentadas’, extremo cuidado, disciplina e perseverança na execução, empresário visionário com raro talento de liderança, equipe coesa, experiente, resiliente, que sabe trabalhar de forma colegiada, com capacidade de se adaptar e de tomar riscos quando necessário, além de uma cultura corporativa que estimula a inovação e ao mesmo tempo a simplicidade.”
Na segunda carta, a gestora detalha as especificidades do modelo de negócios do MELI, discute os principais riscos do investimento e explica porque é difícil “aplicar cruamente as métricas/conceitos de valuation tradicionais” neste tipo de empreendimento.
O trecho abaixo é significativo:
“As convenções contábeis não capturam adequadamente as sementes enterradas do esforço financeiro do investimento passado e presente que podem germinar considerável valor no futuro. O valor presente dos fluxos futuros vem agora de baixo para cima, do ‘economics’ do cliente existente e da captura do cliente marginal. O valor do negócio reside na capacidade de gerar interações e aprofundar relacionamentos.
Sendo assim, a despeito do elevado crescimento destes últimos anos, o MELI é hoje uma plataforma que oferece um portfólio de oportunidades mais extenso do que na época do IPO. Nosso excesso de cautela naquela ocasião tornou-se uma lição aprendida com introspecção e decantada por muito esforço no trabalho de análise desde então.
Naquela época nos deparávamos com uma empresa de fato muito nova, com pouco track record, com um valor de mercado de US$ 790 milhões, diante de uma enorme oportunidade no ecommerce na América Latina.
Hoje estamos diante de uma companhia líder nos seus principais mercados, com um histórico consistente de execução e posicionamento estratégico de dar inveja aos melhores businessmen idealizados por Brian Arthur. Os dados indicam ainda que estamos apenas no início da caminhada no ecommerce. Além disso, vemos o MELI como um forte candidato a novo entrante no que é provavelmente o principal ‘profit pool’ corporativo da região, a indústria de produtos financeiros. (Nota do BJ: Este trecho é uma referência ao financiamento de capital de giro dos vendedores na plataforma MELI e, futuramente, aos pagamentos via ‘wallet’, que são a marca do Alipay e do Wechat).
Será que o valor de mercado de US$ 15 bilhões frente ao tamanho da oportunidade e à probabilidade da Companhia em capturá-la é maior ou menor do que na época do IPO? Em termos mais simples, a ação é hoje mais cara ou mais barata?
Digressão intelectual obviamente sem resposta objetiva, mas é importante dizer que desde então nossa compreensão sobre o tamanho da oportunidade evoluiu mais do que nossa dúvida sobre a pertinência do valuation. Um marketplace que oferece inúmeras categorias, que “vende quase tudo”, possui um enorme potencial. E se esse omni mercado digital volta-se para uma região com carências estruturais, encontrando um consumidor com inúmeras demandas não satisfeitas, as oportunidades se multiplicam, o espectro potencial de captura de valor é considerável.”
A íntegra das cartas:
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