A Rumo está fazendo uma reunião agora de manhã com gestores e analistas do sellside para esclarecer o que considera ruídos de comunicação com o mercado.
Desde que a empresa publicou o resultado do segundo tri, em 7 de agosto, a ação caiu mais de 10%, com os investidores questionando a política de precificação, a capacidade de execução operacional da empresa e os custos e prazos de seu principal projeto de expansão.
A ação da Rumo negocia hoje no low histórico dos últimos cinco anos, a R$ 14,68, com a companhia valendo R$ 27,2 bilhões na Bolsa.
A reunião — que conta com todo o C-Level da companhia, incluindo o CEO Pedro Palma e o CFO Guilherme Machado — começou às 8h30 de hoje.
O primeiro ponto que está sendo abordado pela Rumo é a política de precificação da companhia.
Havia uma expectativa no mercado, alimentada por projeções da própria Rumo, de que a companhia conseguiria impor um aumento de preços este ano em seus contratos de transporte de grãos, que respondem por 70% do volume da companhia.
A projeção da Rumo, incorporada no modelo dos analistas, era de que o preço por tonelada ficasse em R$ 285, em comparação aos R$ 261 que a companhia praticou no ano passado.
Essa expectativa, no entanto, não se materializou: no segundo tri o preço realizado pela companhia foi de R$ 246. No primeiro, havia ficado em R$ 277/tonelada.
“Tínhamos essa expectativa de preço porque entendíamos que a safra deste ano seria muito sólida, o que geraria uma pressão logística. Mas a pressão logística acabou não vindo porque os produtores decidiram segurar as vendas depois da colheita de soja em fevereiro para ver se o preço subia,” o CEO Pedro Palma disse ao Brazil Journal.
Como o mercado não foi para o patamar que a Rumo esperava, a companhia acabou perdendo volumes e share no primeiro tri. No segundo tri, decidiu ajustar a estratégia.
“Somos um negócio de infraestrutura. O que faz sentido é preencher a capacidade e girar o ativo com muito volume,” disse o executivo. “E o patamar de preço em que estamos operando ainda é muito saudável, com margens boas e que remuneram os nossos investimentos.”
Em parte, a expectativa do mercado de um bom repasse de preços este ano tinha a ver com a dinâmica do ano passado.
Em dezembro de 2023, a Rumo conseguiu pré-contratar 100% de sua capacidade para o ano seguinte, com contratos de take or pay com as tradings a um preço 20% acima de 2023. A estratégia acertou na veia: os preços spot ao longo do ano caíram por conta de uma frustração nas safras, chegando a bater em R$ 210/tonelada, mas a Rumo faturou o preço cheio.
Aquilo, no entanto, machucou as tradings, “porque elas tiveram que pagar o nosso take or pay ou comprar do produtor com margem negativa,” disse o CFO da Rumo. “Na hora de negociar a pré-contratação de 2025, elas ficaram mais cautelosas e decidiram contratar mais pari passu com o avanço da safra.”
O CFO disse ainda que a Rumo está sujeita a essa ciclicidade do agronegócio, mas que nos últimos 5 a 10 anos a trajetória dos preços tem sido de crescimento, até acima da inflação.
“Não é uma trajetória linear, mas somos uma companhia cujo direcional é de crescimento de volume e preço, com algumas oscilações no curto prazo pelos aspectos estruturais. Isso faz parte do jogo.”
O segundo tema debatido pela Rumo na reunião é sua capacidade de execução operacional, já que depois da divulgação do segundo tri o mercado começou a questionar se a companhia conseguiria entregar seu guidance de volume para o ano.
O guidance da Rumo é entregar um volume de 82 bilhões a 86 bilhões de TKUs em 2025. No primeiro semestre, a companhia entregou 37,9 bilhões, precisando entregar pelo menos 44 bilhões no segundo semestre para chegar na faixa mais baixa do guidance.
“Talvez a gente não faça o ponto médio do guidance, mas reafirmamos nossa convicção de que vamos estar dentro do range do guidance,” disse o CFO. “O número do mês de agosto, que divulgamos ontem, mostra isso.”
Em agosto, a Rumo fez um volume de 8,2 bilhões de TKUs, o maior volume da história da companhia em um único mês.
O CFO também disse que a Rumo tem feito uma série de investimentos estruturantes para melhorar sua operação, incluindo medidas de melhoria do planejamento da operação e de eficiência operacional.
“Temos buscado formas de melhorar a movimentação dos trens e de responder às intercorrências o mais rápido possível, para não ter paralisações. Temos um time de ferroviários com uma média de 17 anos de experiência – os com menos tempo tem 9 anos – e temos reduzido muito o turnover dos maquinistas,” disse o CFO.
Outro tema que tem gerado desconforto entre os investidores é o investimento da Rumo na expansão de sua ferrovia no Mato Grosso, que vai ligar Rondonópolis a Lucas do Rio Verde.
Em agosto do ano passado, a companhia fez um ajuste relevante no capex para a primeira fase do projeto, que foi elevado em 40% para R$ 5 bilhões.
Desde então, há uma dúvida no mercado se a Rumo não fará um novo ajuste, ou se a obra — que está prevista para ser concluída no final de 2026 — terá que ser atrasada.
“Quando divulgamos o número original havia uma baixa maturidade do projeto e, quando entendemos isso, já fizemos a correção. De lá para cá, melhoramos e implementamos uma governança grande para a gestão desse projeto e de outros. Acompanhamos todo o avanço físico da ferrovia e o investimento está on track e on budget,” disse o CEO.
“Temos conduzido as obras com uma estratégia de contratação de parceiros que tem se mostrado acertada, que é dividir o trecho de 160 quilômetros em pacotes, com diferentes parceiros executando cada trecho para mitigação dos riscos.”
Além do Mato Grosso, outro investimento relevante da companhia será a construção de um novo terminal no Porto de Santos. A Rumo está na fase de licenciamento desse projeto, que vai demandar um capex de R$ 2,5 bilhões e deve levar cerca de 30 meses de execução após a obtenção das licenças.
Para este ano, o capex total da companhia será de R$ 6 bilhões, com R$ 2 bi destinados à primeira fase da Ferrovia de Mato Grosso, R$ 2 bi para a manutenção dos ativos e R$ 2 bi para a aquisição de locomotivas e outros materiais.
A reunião de hoje vem num momento em que o short interest na Rumo está perto do high histórico. A companhia tem 126 milhões de ações alugadas, o equivalente a 10% do float ou 14 dias de negociação. A taxa de aluguel está em quase 6% ao ano, uma das mais altas dos últimos anos.
A Rumo negocia hoje a 4,9x seu EBITDA estimado para 2026, em comparação a uma média histórica de 8,7x.