Terceira maior rede de farmácias do Brasil, com 1.440 lojas, a Drogaria São Paulo e Pacheco (DPSP) pretende dobrar seu ritmo de aberturas este ano — pisando no acelerador depois de um período em que cresceu abaixo do mercado.
A rede, controlada pelas famílias Barata e Carvalho, projeta abrir 130 lojas este ano e realocar outras 30 — tipicamente, isso acontece quando uma loja pequena se muda para um espaço maior na mesma região. No ano passado, a rede abriu 70 novas lojas e fechou 20.
Nos últimos cinco anos, a DPSP vinha abrindo uma média de 60 novas lojas por ano — um ritmo consideravelmente menor que o de concorrentes como a Raia Drogasil, que vem abrindo mais de 200 lojas por ano.
“Os resultados de 2022 foram muito bons, o que nos deu credibilidade [com os acionistas] para acelerar bastante,” o CEO Jonas Laurindvicius disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, o plano da empresa é continuar acelerando o ritmo nos próximos anos. Em 2024, a meta é abrir 180 lojas, e quase 200 no ano seguinte.
Jonas – um ex-diretor de supply chain da Riachuelo que entrou na DPSP há sete anos e se tornou CEO há um ano e meio – disse que a companhia fechou o ano passado com um faturamento de mais de R$ 13 bilhões, em comparação aos R$ 12 bi de 2021, quando a empresa fez um EBITDA de R$ 500 milhões.
A companhia espera fazer um capex de R$ 450 milhões este ano, em linha com o ano passado. A diferença é que agora a maior parte do montante (70%) vai ser direcionado à expansão.
A DPSP vem crescendo basicamente com sua própria geração de caixa. Segundo o CEO, a empresa tem um pouco de dívida, mas sua alavancagem é “a menor do mercado”, considerando os números dos três players listados (Raia, Panvel e Pague Menos).
A expansão mais acelerada vem num momento em que a DPSP passa por uma retomada forte das vendas, depois de sofrer mais que o mercado durante a pandemia — o que se refletiu num crescimento inferior ao do setor.
Em 2020, por exemplo, o faturamento cresceu só 1,6%, enquanto as redes associadas à Abrafarma cresceram 8,8%.
Jonas explica que isso aconteceu por dois motivos. Além da DPSP ter aberto menos farmácias que os concorrentes, seu parque de lojas é concentrado nas grandes metrópoles e em regiões de alto fluxo de clientes (como a Avenida Paulista).
“Somos muito regionalizados e concentrados em centros urbanos, o que fez com que nossas lojas fossem mais afetadas pelos lockdowns e pela mudança para o home office. No pior momento, nossa loja da Paulista, por exemplo, chegou a faturar 75% menos que no pré-pandemia,” disse ele.
Hoje, o faturamento das lojas já voltou ao nível pré-pandemia.
A DPSP nasceu há cerca de 10 anos da fusão de duas das mais tradicionais redes de farmácias do País: a Drogaria São Paulo, fundada pela família Carvalho há 80 anos, e a Drogaria Pacheco, fundada no Rio de Janeiro pela família Barata.
Hoje, os Barata têm 54% do negócio, os Carvalho, 38%, e o saldo está nas mãos de sócios minoritários.
O presidente do conselho ainda é Ronaldo Carvalho, o filho do fundador da Drogaria São Paulo que herdou uma pequena rede e a transformou num colosso. Aos 78 anos, Ronaldo é um dos empresários mais respeitados do setor (foi ele que teve a ideia de fundar a Abrafarma nos longínquos anos 90).
A DPSP é hoje a única das grandes redes de farmácias não listada na Bolsa – e, segundo Jonas, a ideia é continuar assim por mais um bom tempo.
Um IPO ou aporte de private equity “não é nem uma discussão no conselho, porque não precisamos de capital. A empresa gera muito lucro e consegue se autofinanciar,” disse o CEO.
A expansão da DPSP nos próximos anos terá outra novidade. A empresa vai começar a focar em cidades no interior dos grandes centros e em Estados onde ela ainda não tem presença. A rede está em 10 Estados e entrou recentemente em Cuiabá, onde já abriu cinco lojas.
“Estamos abrindo o leque e buscando outras oportunidades para ajudar a levar mais conveniência para as regiões, já que ter lojas ajuda também na omnicanalidade,” disse ele.
Naturalmente, a expansão acelerada levanta questionamentos sobre a sustentabilidade de um movimento como esses. Afinal, há uma certa saturação no setor — com uma farmácia em cada esquina — o que tende a reduzir as margens no médio prazo.
Jonas concorda que a competição está cada vez mais acirrada, mas diz que ainda vê bastante espaço para novas aberturas.
“Fazemos sempre um mapeamento muito profundo do potencial antes de abrir uma loja. Vemos a densidade populacional, renda, quanto já tem de drogarias instaladas e quanto sobraria de mercado pra gente,” disse ele. “Com tudo isso, temos que ter uma TIR acima de 20%, 22%, senão o investimento não remunera o capital do acionista.”
Sobre as margens declinantes no setor, ele diz que o aumento da competição de fato pressiona negativamente as margens, mas que há outros fatores que compensam — como o ganho de volume e os vários lançamentos de novos medicamentos.
“Os laboratórios estão sempre desenvolvendo novas moléculas e novas possibilidades de curas, o que permite adicionar mais vendas com margens maiores. Tem esse efeito colateral positivo do mercado”.