A Petrobras conseguiu levantar nesta semana 2,5 bilhões de dólares vendendo um título com vencimento de 100 anos.

Joaquim Levy disse que “a captação é boa notícia, parece que as pessoas estão confiantes na Petrobras”, e a própria estatal comemorou a vitória, tentando somá-la a uma narrativa de reversão das expectativas.

Parece algo impressionante, mas, olhando debaixo do capô, trata-se de um oba-oba.

A Petrobras ofereceu pagar uma taxa de juros de 6,85% ao ano e aceitou vender os títulos a 81% do seu valor de face, o que fez com que o retorno para o investidor ficasse em 8,45%.

Isso é o mesmo que taxas pagas por empresas ‘abaixo do grau de investimento’— ou seja, com crédito ruim na praça.

Na cadeia alimentar do mercado de dívida, as empresas de petróleo com o melhor risco — ‘AAA’ — estão pagando aos investidores uma taxa média de 1,5% a.a. quando lançam títulos no mercado.

As petroleiras ‘BBB’ — categoria na qual, em tese, está a Petrobras, que ainda tem seu ‘grau de investimento’ porque as agências de risco apostam que ela sempre contará com a ajuda do Tesouro — pagam entre 2,5% a 3%.

No mundo menos glamouroso ‘junk bonds’, onde vivem as companhias que pagam mais caro para tomar emprétimos porque seu crédito é visto como fraco, as empresas classificadas como ‘BB+’ pagam entre 4% e 4,5%.

Calma, estamos quase chegando na taxa da Petrobras…

As ‘BB -‘ pagam 6,5% a 7,5%; e as ‘B -‘, ‘B’ e ‘C’ pagam entre 8,5% e 9,5%. É nessa vizinhança que o mercado colocou a Petrobras ao exigir 8,45%.

A leitura objetiva — e não ufanista — da emissão da Petrobras é de que o mercado exigiu um retorno como se a estatal fosse ‘junk’.

O vencimento da dívida, de 100 anos, foi escolhido para esconder esse custo alto, e não para atender à melhor relação custo-benefício para a empresa.

Diz um ex-banqueiro que ganhou a vida no mercado de dívida: “A Petrobras sabia que teria que pagar um prêmio (um ágio) ao mercado nessa sua volta ao mercado. Ela sabe que o seu papel é percebido como junk e que ela teria que pagar caro. Para que isso não ficasse tão patente, eles resolveram lançar um título de vencimento longuíssimo (algo que nunca tinha feito). Assim, [a companhia] poderia dar a explicação de que o prêmio teve a ver com o prazo. Por que não emitiram um título de 7 ou 10 anos? Ela deveria estar muito mais preocupada com o spread do que com o prazo.”

O fato é que os títulos perpétuos trazem um custo desnecessário para empresas que têm bom acesso aos mercado.

Quando a Petrobrás anunciou aos investidores que estaria vendendo os títulos, ela ofereceu pagar até 8,85%, um rendimento de 1,5 ponto percentual acima do que a empresa paga nos seus títulos de 30 anos que negociam no mercado. (Mais tarde, a demanda fez a taxa cair para 8,45%).

Um banqueiro não envolvido na operação disse à International Financing Review, a bíblia do mercado de dívida: “Eles vão pagar 1,5% a mais para uma extensão de [prazo] que é irrelevante.. Por que não fizeram um vencimento de cinco anos? Que empresa emite um vencimento tão longo quando todos os seus papéis estã negociando tão mal quanto os deles?”

Para uma companhia que até recentemente estava sem balanço e que tem frequentado as páginas policiais com a mesma frequência que os cadernos econômicos, conseguir crédito é realmente um triunfo.

Mas a outra mensagem, embutida no preço, não pode ser esquecida.