Em 2018, Paulo Orione, Gustavo Tremel e Daniel Smolenaars colocaram US$ 100 milhões no bolso ao vender a startup Decora — que criava ambientes 3D de vendas para varejistas — para a americana CreativeDrive.
Depois de um hiato de quase quatro anos, o trio está de volta com uma nova startup — dessa vez, num setor bem mais complexo e intensivo em dados.
Os três acabam de fundar a VAAS, uma startup que ajuda bancos e exchanges que operam com criptomoedas a prevenir crimes e lavagem de dinheiro.
A VAAS criou uma solução de análise de blockchain que consegue rastrear as wallets dos usuários de seus clientes e, com base no fluxo de cada um, produz um score que mostra o risco do cliente ser um criminoso.
A startup analisa, por exemplo, a origem do dinheiro das wallets — se boa parte dos recursos vier da dark web, esse é um indicativo de que o cliente pode estar ligado a atividades criminosas.
O cliente da VAAS (um banco ou exchange) recebe ,uma visão do risco individual de seus usuários e alertas de atividades suspeitas. Com base nisso, decide se quer bloquear ou não aquela conta.
A startup também está trabalhando numa solução para analisar o fluxo monetário do Pix dos clientes, e fazer a mesma inferência de risco.
“Nossa missão é criar uma ferramenta antifraude que junte as transações de cripto com as transações de Pix para ter uma visão mais holística do risco do cliente,” Paulo disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, analisar o fluxo monetário do Pix é muito mais complexo do que fazer esse trabalho no mundo cripto, já que o Pix e CPF são dados protegidos, enquanto as transações feitas na blockchain são públicas.
Para romper essa barreira, a VAAS está tentando replicar nas transações com Pix o que acontece na blockchain.
“Nossa ideia é criptografar todos os dados do banco e só vamos ver o dado criptografado. Dessa forma, não vamos saber quem fez a transação, respeitando a privacidade do cliente, mas conseguiremos ver que foi uma transação suspeita e avisar o banco.”
A VAAS começou a operar em agosto, mas o primeiro produto da companhia — a ferramenta ‘antifraude’ para o mundo cripto — só ficou pronta em março. Recentemente, a startup entrou no programa de aceleração da B3, onde teve a ideia de trabalhar também com o Pix.
A expectativa dos fundadores é que a solução para o Pix fique pronta até o final do ano, ampliando consideravelmente o mercado endereçável da startup.
A VAAS está replicando no Brasil um tipo de serviço que já é comum lá fora. A Chainalysis, por exemplo, faz esse trabalho de análise de blockchain e prevenção de crimes desde 2014. A companhia, com sede em Nova York, foi avaliada em mais de US$ 8 bi em sua última rodada privada.
A Chainalysis também tem operação no Brasil, mas “o custo de contratar eles é muito alto,” disse Paulo. “A gente tem um custo super competitivo porque estamos no Brasil e temos uma operação enxuta.”
Até agora, a VAAS cresceu com capital próprio dos três sócios. Mas este ano, o objetivo dos fundadores é captar uma primeira rodada de seed, já que “a solução vai demandar bastante funding.”