A Goldman Sachs rebaixou sua recomendação para a Dexco de ‘compra’ para ‘neutro’ — citando a perda de market share da dona das marcas Deca e Hydra e um cenário macroeconômico desafiador.
As receitas da vertical de revestimentos e da Deca, que fabrica louças e metais sanitários, caíram respectivamente 27% e 33% no ano passado, em comparação a quedas de 8% e 29% do mercado como um todo.
Na Goldman, o analista Marcio Farid disse não ver nenhum catalisador de curto prazo para a ação, dado o cenário macroeconômico desafiador, os resultados fracos da Deca e da operação de cerâmicas, e o elevado capex da Dexco num momento de lucros magros.
“Dado a incerteza sobre quanto tempo essa pressão na geração de caixa livre vai durar (nosso cenário-base é dois anos), preferimos esperar ficando fora do papel,” escreveu o analista. “Ficaríamos mais construtivos com a tese se surgissem sinais claros de uma melhora operacional e do mercado.”
A Goldman cortou o preço-alvo da Dexco em 40% para R$ 6,50 por ação, em linha com o preço de tela (R$ 6,53).
A ação está praticamente no mesmo patamar do low dos últimos cinco anos, de R$ 6,42, atingido em abril de 2020, no início da pandemia. A Dexco negocia a 7x o EV/EBITDA para este ano. A Dexco é controlada pela Itaúsa (40%) e pelos irmãos Seibel (20%), e vale R$ 5,4 bilhões na Bolsa.
O downgrade vem depois da Dexco reportar um resultado fraco do quarto trimestre na semana passada, com queda de 38% no EBITDA, 10% abaixo do consenso do mercado.
A queda na rentabilidade teve a ver principalmente com a derrocada dos volumes da Deca e em revestimentos, que respondem por 30% do EBITDA, e com os custos elevados.
Já a vertical de painéis de madeira continuou resiliente, com a lucratividade melhorando e ganhos de market share.
Essa vertical, que responde pelos 70% restantes do EBITDA, deve continuar a entregar bons resultados, “suportados por uma sólida estratégia comercial e industrial e importantes fatores estruturais, como o alto custo e a baixa disponibilidade de madeira para os concorrentes e um mercado exportador rentável.”
A Goldman espera que a Dexco tenha uma geração de caixa livre negativa (em mais de R$ 600 milhões) este ano, e volte para o breakeven no ano que vem.
A Goldman nota que a vertical Deca/Revestimentos é a maior preocupação dos investidores hoje. Segundo o banco, a vertical vem performando mal por uma combinação de performance industrial ruim (com custos elevados) e uma estratégia comercial errada, que levou a perdas de share e de margem.
Em janeiro, a Dexco trocou o comando da divisão Deca e revestimentos, nomeando Raul Guaragna (que liderava a vertical de painéis de madeira) no lugar de Marcelo Izzo.
A Goldman acha que essa troca pode corrigir o rumo da divisão, mas diz que a mudança na estratégia pode demorar a se materializar e só vê números melhores para a divisão a partir de 2024.
Já a Dexco espera que algumas melhoras começarão a aparecer já ao longo deste ano.
Por conta da perda de share e do cenário macro, o capex que estava comprometido para um aumento de capacidade provavelmente será usado para substituir ativos pouco eficientes — com um espaço limitado para aumentar a produção nos próximos anos.