Depois de um ciclo de três anos de turnaround — que incluiu o fechamento de escolas deficitárias, a venda de ativos e uma captação recente de equity — a Bahema Educação está se preparando para voltar a crescer.

A holding de educação básica quer consolidar o mercado de K-12 no Brasil com M&As de escolas menores — além de acelerar a expansão de suas 12 marcas. 

O último M&A da Bahema foi em 2021, o mesmo ano em que ela passou a ser controlada por fundos cujos principais cotistas são os acionistas originais da Ânima.

A holding, fundada pela família Affonso Ferreira, entrou no mercado de educação em 2017 com a compra da Escola da Vila, em São Paulo, e da Escola Parque, no Rio.

Para refletir este novo momento, a empresa também está mudando de nome, passando a se chamar Bioma — uma referência ao fato de cada escola do grupo ser um ecossistema único, que juntos formam um Bioma. 

O CEO Gabriel Ralston — que também é acionista da empresa e um dos fundadores da Ânima — disse ao Brazil Journal que os anos de 2022 e 2023 foram difíceis para a Bahema, “mas agora, com a estrutura de capital organizada e com a nossa plataforma pronta, conseguimos voltar a olhar para fora e pensar em novos M&As.”

Gabriel Ralston ok

A melhora da estrutura de capital foi possível com dois movimentos recentes: a venda da Brazilian International School (BIS) no final de 2023, que injetou cerca de R$ 100 milhões no caixa, e a captação de equity feita há dois meses com a gestora Strata, que colocou mais R$ 75 milhões na empresa. 

Com os dois movimentos, a dívida líquida — que chegou a bater R$ 208 milhões no terceiro tri do ano passado — caiu para R$ 30 milhões hoje, com uma alavancagem de cerca de 4x EBITDA. 

Neste ano, a Bioma também conseguiu estancar a sangria da Escola Mais, que havia reportado um resultado operacional negativo de mais de R$ 15 milhões nos primeiros nove meses do ano passado. 

Esse prejuízo já caiu para menos de R$ 3 milhões nos nove primeiros meses deste ano e deve zerar no ano que vem com o fechamento de três unidades deficitárias.  

Os problemas da Escola Mais — criada para ser uma marca mais acessível, com mensalidades ao redor de R$ 1 mil — começaram em 2022. 

“Esse era um projeto de crescimento acelerado, com a premissa de que a geração de caixa viria com a escala,” disse o CEO. “Mas em 2022, começamos com 4 mil alunos e terminamos com 3 mil. Foi uma combinação da volta da pandemia, que foi difícil para todas as escolas, com o fato de serem unidades novas, onde as famílias ainda tinham pouco vínculo.”

Segundo Ralston, quando os problemas começaram, em vez de olhar para dentro e priorizar a arrumação, a escola priorizou continuar crescendo. De lá para cá, a Bioma foi comprando mais participação na escola (que antes era controlada pelos fundadores), e mudou toda a gestão. 

“Encerramos unidades, vimos o número de alunos encolher, mas agora ela está perto de chegar no breakeven.”

A Bioma tem hoje 12 marcas de escolas com 26 unidades e 10 mil alunos. A maior delas é a Escola Parque, no Rio de Janeiro, que tem 4 unidades e 3 mil alunos. A Escola Mais tem 6 unidades (das quais três serão encerradas) e 2 mil alunos (um número que vai cair para 1,5 mil). 

O turnaround já tem aparecido nos números. No terceiro tri, a Bahema fez uma receita líquida de R$ 88,6 milhões – alta de 4,2% ano contra ano – com um resultado operacional de R$ 8,5 milhões, 39% maior que o do ano passado. 

O EBITDA saiu de R$ 17 mil negativos para um R$ 1 milhão positivo, e já acumula R$ 4,7 milhões de janeiro a setembro. 

“As escolas premium têm uma margem EBITDA de 15% a 20%, com algumas escolas dando mais de 30% e outras ainda no processo de construção de margem. Já a Escola Mais está com margem negativa e fizemos um investimento na estrutura administrativa, de implementação de sistemas, que representa uns 7% da receita,” disse Ralston. 

Segundo ele, com a melhora da Escola Mais e o ganho de escala dos próximos anos, a margem da empresa como um todo tende a melhorar muito, convergindo para o patamar das escolas premium do grupo. 

O CEO diz que o momento é propício para voltar aos M&As. “É um mercado muito pulverizado e está ficando cada vez mais óbvio para as escolas que ficar sozinho não é fácil. Quando começamos tinha uma resistência das escolas em vender, mas hoje elas perceberam que conseguem vender mantendo seu DNA e agregando valor por fazer parte de um grupo.”

Gabriel disse que, nos próximos M&As, não há preferência por uma linha pedagógica específica, apesar do foco do portfólio hoje ser em escolas construtivistas e de ensino bilíngue. 

“Não precisamos dobrar de tamanho num curto espaço de tempo. O crescimento acelerado da Escola Mais foi um aprendizado pra gente e mostrou que às vezes precisamos ir com mais calma.”

A Bioma vale pouco mais de R$ 120 milhões na B3, com a ação caindo 50% nos últimos 12 meses. 

O investimento da Strata, no entanto, mostra que o preço de tela diz pouca coisa hoje, e tem a ver em parte com a baixa liquidez do papel. A gestora investiu R$ 75 milhões (quase o market cap inteiro da empresa) em troca de 40% de uma subsidiária da Bioma (a Bahema RJ), que responde por 43,5% da receita e 41,5% do resultado operacional das escolas premium do grupo. O contrato estipula que essa participação pode subir para a holding em determinadas situações.