O grupo J&F, que controla a JBS e diversas outras empresas, está reduzindo sua aposta na desvalorização do real nas últimas semanas, pondo fim a um dos trades mais bem sucedidos da história cambial brasileira.

Segundo participantes do mercado, as várias empresas do grupo têm deixado vencer contratos que não apenas protegiam o grupo contra uma alta do dólar mas faziam uma aposta especulativa sobre a direção da moeda americana.

Wesley Batista

No pico de sua exposição a derivativos cambiais, só a JBS chegou a ter 51 bilhões de reais em apostas na desvalorização do real, de acordo com seu balanço recém-publicado.  Somando-se a isto os 7 bilhões de reais de exposição da empresa de celulose do grupo, a Eldorado, o subtotal, no pico, chegava a 58 bilhões de reais.  Isto sem falar nas outras empresas dos Batista, como a J&F (a holding do grupo), o Banco Original e a Flora, indústria de cosméticos. (O número final é objeto de especulação em algumas mesas de câmbio.)

No terceiro trimestre, a JBS — a principal empresa do grupo — lucrou quase 10 bilhões de reais com sua posição em derivativos. (

Mostramos aqui, em dezembro passado, como a empresa surfaria a alta do dólar este ano.

)

Mas de outubro para cá, o grupo tem desmontado a posição, o que, para alguns operadores, tem sido um de vários fatores ajudando a taxa de câmbio a permanecer estável.

“Isso é uma posição gigante.  Quando você desmonta, é claro que tem impacto,” disse um analista. A extensão do desmonte só ficará mais clara quando a empresa reportar o próximo trimestre.


Joesley Batista

A aposta da JBS de que o real se desvalorizaria começou a ser feita em 2014. Na turbulência do ano eleitoral, o Banco Central começou a vender swaps (contratos que protegem seu detentor de uma desvalorização do real), e o estoque de swaps no mercado hoje chega a 108 bilhões de dólares. Enquanto o BC vendia proteção, os Batista compravam, valendo-se para isto de vários instrumentos, principalmente o dólar futuro na BM&F e swaps cambiais com bancos.

A JBS começou o quarto trimestre com 41,3 bilhões de reais em exposição a derivativos cambiais.  Em 30 de setembro, o último dia do trimestre anterior, a tesouraria da empresa deixou vencer cerca de 9,8 bilhões de reais em derivativos. Parte deste montante, 1,5 bilhão de dólares, era um hedge específico, feito pela empresa para a compra da Moy Park, que expirava em 30 de setembro. Ou seja, o desmonte de posições foi superior a este valor, e continuou nas semanas seguintes.

A JBS contesta a visão do mercado de que fez uma aposta direcional no câmbio.  Segundo fontes da empresa, tudo que a JBS fez foi proteger 100% de sua dívida em dólar do impacto de uma desvalorização cambial.  “Se não tivéssemos feito isso, a desvalorização atingiria nosso resultado e nossa alavancagem, com efeitos perversos sobre o nosso crédito,” diz um executivo da empresa.

No mercado, analistas dizem que este discurso da empresa é uma tentativa de explicar a aposta direcional.  Para estes analistas, como tem recebíveis em dólar e um vasto patrimônio em moeda forte (sua operação nos EUA), a JBS seria apenas momentaneamente impactada pela desvalorização.

“Num primeiro momento, eles teriam que reconhecer que a dívida (quando calculada em reais) explodiu, mas ao longo do tempo a geração de caixa deles em dólar compensaria este efeito,” diz um analista que cobre a empresa.  “Empresas com receita dolarizada não protegem toda a sua dívida em dólar contra desvalorização.”

Na Bolsa, os ganhos com o dólar ajudaram a ação da JBS este ano (alta de 26% nos últimos 12 meses) e abriram espaço para que dois acionistas históricos — o BNDES e a Caixa — começassem a vender suas ações nas últimas semanas, o que tem segurado a ação no patamar de 13,80 reais.  “Se eles parassem de vender, a ação subiria rápido,” diz um gestor.