A UME — uma financeira B2B2C que opera no mercado de crediário digital — acaba de levantar uma rodada de R$ 118 milhões para sustentar seu crescimento enquanto ainda não gera caixa e investir mais em tecnologia. 

A Série B foi liderada pela Valor Capital e pela Bewater, a gestora brasileira que já investiu em startups como a IBBX e Farmtech. Parte dos investidores que já estavam no cap table também acompanharam, incluindo a PayPal Ventures, Globo Ventures, Canary e BigBets.

A rodada vem um ano depois da UME ter levantado uma Série A de R$ 81 milhões.

12053 296d0e51 f69d 02c0 e778 e97d92ffbe71A startup ainda não gera caixa, mas o CEO Berthier Ribeiro disse que a previsão é atingir o breakeven já no ano que vem. “Essa rodada sustenta nossa operação com tranquilidade até o breakeven e nos dá capacidade de tomar a decisão se vamos captar mais ou não,” ele disse ao Brazil Journal

A UME vai usar os recursos da rodada para continuar investindo em tecnologia, o que inclui a contratação de mais 15 desenvolvedores, além de acelerar a expansão comercial da companhia com foco num novo modelo de parceria com as varejistas, que começou no final do ano passado. 

“Estamos trazendo um time de tecnologia estelar e de classe mundial. Queremos ter as melhores cabeças trabalhando conosco,” disse Theo Ramalho, o outro fundador.

Desde dezembro, o CTO da UME é Berthier Ribeiro-Neto, o pai de Berthier Ribeiro que liderou por 19 anos o time de engenharia do Google no Brasil depois de vender sua empresa para a Big Tech em 2003.

Fundada em 2019, a UME começou operando junto a pequenos e médios varejistas regionais — que faturam de R$ 40 milhões a R$ 500 milhões por ano — oferecendo aos clientes dessas empresas o parcelamento das compras em até 4 vezes.

Para pagar com a UME, o cliente dos varejistas precisa baixar o app da startup e passar por um processo de aprovação de crédito que normalmente leva cinco minutos.

Depois da compra, a fintech paga o varejista em D+2, cobrando uma taxa de desconto por isso, e também ganha um juro pago pelo consumidor.

Nesse modelo, a UME compete com players consolidados como a DMCard, a líder desse setor. Mas, diferente da concorrente, que opera basicamente com cartões private label, a UME permite que os clientes façam suas compras com Pix, escaneando um QR Code nas lojas pelo app da startup. 

Isso reduz drasticamente o custo por transação da UME, turbinando suas margens, e torna o processo mais simples para o cliente.

Desde dezembro, no entanto, a startup tem focado num novo modelo de parceria com os varejistas, mirando companhias de grande porte. 

“A evolução que fizemos foi permitir que os grandes varejistas passassem a construir suas próprias operações de crédito pela nossa plataforma. Antes a gente levantava FIDCs, comprávamos a cota subordinada e emprestávamos ao consumidor. Nesse novo modelo, são os varejistas que compram a cota subordinada e passam a ficar com o resultado do crédito,” disse Berthier.

O CEO explica que a UME fornece toda a infraestrutura e tecnologia para que o varejista opere o crédito, incluindo um modelo de análise de risco e a operação de atendimento e cobrança. 

Por enquanto, a UME tem três grandes varejistas operando com ela nesse modelo, “mas nosso pipeline está muito aquecido. Estamos em conversas com grandes redes nacionais e importantes redes regionais,” disse o CEO.

Nesse modelo, a UME se remunera cobrando um fee transacional dos varejistas em troca de oferecer toda a infraestrutura da operação de crédito. 

“Apesar de ficarmos com menos receita nesse modelo, o mercado endereçável é maior. Além disso, o modelo cria um alinhamento maior com as grandes redes, já que elas ficam mais incentivadas a oferecer aquela opção de pagamento,” disse Theo. 

A UME está focando sua expansão nesse novo modelo mas continua operando com o modelo anterior, em que o varejista não assume o risco e não fica com o resultado do crédito, ganhando uma comissão por distribuir os produtos da UME. 

“Tem varejistas que já estão nesse momento, mas outros não. Operamos das duas formas,” disse o fundador.

Em 2023, a UME emprestou R$ 220 milhões. Neste ano, a expectativa é bater R$ 600 milhões e chegar a dezembro com uma originação anualizada de R$ 1 bilhão. A meta para 2026 é crescer 2,5 vezes os empŕestimos, muito em cima do novo modelo. 

Berthier resumiu a estratégia da UME dizendo que a empresa está tentando reconstruir a infraestrutura de pagamento que é entregue pela Visa e Mastercard, mas em cima do Pix, “permitindo que os negócios acessem um lucro que hoje fica só nas mãos dos bancos.”