Na crítica mais radical já feita ao conceito de ESG, Aswath Damodaran tentou desconstruir o consenso do mundo corporativo ao redor de se adotar padrões ambientais, sociais e de governança nas empresas.
Dentre outras críticas diretas (e polêmicas), o ‘papa do valuation’ disse que considera o ESG o conceito mais “overhyped” e “oversold” da história do mundo dos negócios.
“Nunca vi um conceito com tão pouco por trás ser adotado por tantas pessoas e de forma tão entusiástica,” disse ele durante um evento da MOI Global, para discutir seu livro, “The Dark Side of Valuation.”
Segundo ele, o motivo para isso é que muitas pessoas estão ganhando dinheiro com ESG. “Mas nenhuma delas é investidor ou funcionário de empresas — são os consultores e advisors dos gestores de portfólio.”
Até aí, trata-se de uma crítica razoável: há setores do mercado que vivem da narrativa e não da prática de ESG, e há mesmo cada vez mais dinheiro circulando ao redor do tema.
O problema é que Damodaran tinha mais a dizer, flertando perigosamente com o niilismo.
Na entrevista, o professor da Stern School of Business, da NYU, comparou os esforços ESG das empresas a uma tentativa de se tornarem ‘igrejas.’
“Você realmente quer que suas companhias virem igrejas?… Você sabe o que acontece quando as companhias tentam ser igrejas? Elas não são boas nem como companhias e nem como igrejas. Estamos caminhando para esse cenário, de empresas que soam bem, mas não fazem o bem.”
Damodaran acha que o ESG é uma tentativa de consumidores e legisladores de tercerizar obrigações que são suas.
Para ele, os consumidores “querem a conveniência de comprar na Amazon, mas não querem ter que pensar que toda vez que um pacote da Amazon chega em casa, ele traz consigo 15 toneladas de reciclagem. Querem a conveniência de ir no Walmart e comprar coisas baratas [mas sem pensar na origem daqueles produtos].”
“Decidimos que, como dá muito trabalho ser bom, como é inconveniente para nós comprar produtos com uma boa origem e a um custo mínimo, o mais fácil é pedir que as companhias façam isso por nós.”
A tese chega a ser contraditória. Damodaran parece desconsiderar os benefícios de escala que existem em ter as empresas como gatekeepers do processo produtivo — em vez disso, querendo que o consumidor “compre coisas boas” como se o consumidor tivesse a informação e o tempo necessários para fazer isso.
Pior: em vez de apostar num engajamento coletivo e espontâneo para subordinar o mundo corporativo aos princípios do ESG, Damodaran acha que o ESG deveria vir por legislação.
“É função dos políticos passar leis que previnam o custo social, mas os políticos são muito preguiçosos ou incapazes, então — adivinha? — eles falam para as companhias serem voluntariamente boas. Nada de bom vai sair disso…”
Será que nada? Ninguém acha que o mundo ESG seja perfeito ou não precise de mais substância, mas será que nada de bom pode sair de cobrarmos mais responsabilidade no mundo corporativo?
Talvez seja a hora de Damodaran rever suas premissas.