A Vale reportou um quarto tri em linha com as projeções do sellside e dentro do guidance, mas anunciou um dividendo extraordinário, a extensão de seu programa de recompras e a redução do capex para 2025 — o que agradou os investidores.

A ação sobe quase 3% no meio da tarde num dia de estabilidade do Ibovespa.

O EBITDA proforma ficou em US$ 4,1 bilhões, uma queda de 41% ano contra ano e em linha com o consenso Bloomberg.

A redução de custos que a companhia entregou não foi capaz de compensar a queda no preço do minério de ferro e volumes de venda 10% menores, levando o EBITDA do negócio de minério – o coração da empresa – a cair 39%.

O negócio de metais básicos viu uma ligeira expansão de 2% no EBITDA para US$ 541 milhões, puxado principalmente pelo cobre, que subiu 40%. Já o EBITDA do níquel, um metal menos relevante para a companhia, afundou 62% para US$ 52 milhões. 

Gustavo Pimenta v2

No lado operacional, a Vale entregou uma redução relevante do chamado ‘custo caixa C1’ do minério de ferro — basicamente, o custo com a mineração e o processamento da commodity

Esse custo caiu US$ 2/ton ano contra ano e US$ 1,8/ton na comparação sequencial para US$ 18,8/ton. O quarto tri tipicamente é melhor para o custo, que no consolidado do ano ficou em US$ 20,8/ton.

O CFO Marcelo Bacci disse que o objetivo da Vale é reduzir esta métrica para algo entre US$ 18 e US$ 19. 

“Temos um roadmap pronto do que temos que fazer para chegar nisso, que passa por uma maior estabilidade operacional e melhorias nos suprimentos,” disse o CFO. “Mas esse range de US$ 18 a US$ 19 por tonelada é o limite que enxergamos hoje para o minério de ferro.”

Apesar das melhoras, o que realmente agradou o mercado foram os anúncios da Vale relacionados à remuneração dos acionistas. 

A companhia anunciou um dividendo de US$ 2 bilhões, o equivalente a um yield de quase 10%, dos quais US$ 500 milhões são em dividendos extraordinários (acima da política estabelecida pela Vale em estatuto). O PIX vai cair em março.

A companhia também renovou seu programa de recompra de ações, que acabara de terminar. O novo programa tem duração de 18 meses e permite que a companhia recompre 120 milhões de ações, ou 3% do capital. 

A Vale também anunciou uma redução no capex previsto para 2025, que caiu de US$ 6,5 bilhões para US$ 5,9 bi.

O CEO Gustavo Pimenta, no cargo há apenas quatro meses, disse que a redução do capex veio de ganhos de eficiência e que não haverá nenhuma redução nos investimentos previstos. 

“Fizemos um pente fino no capex para ver o que podia ser feito de otimização, de trabalho com fornecedores, para reduzir esse número,” disse ele. “Mas vamos fazer as mesmas coisas que estavam previstas, só que de forma mais eficiente.”

Ele deu o exemplo das especificações de engenharia. Segundo ele, a Vale tinha criado regras rígidas demais, que levavam a custos maiores com os fornecedores. 

“Quando a gente revê essas regras, já conseguimos encontrar soluções de engenharia mais baratas.”

No trimestre, a Vale teve uma geração de caixa livre recorrente de US$ 817 milhões, superior aos US$ 512 milhões do tri anterior, ajudada principalmente pelo maior EBITDA e uma melhora no capital de giro.

Houve, no entanto, um impacto não-recorrente de US$ 656 milhões relacionado ao desembolso que a companhia fez ao Governo por conta da renovação antecipada da concessão de suas ferrovias, um acordo que vinha sendo negociado há meses.

A dívida líquida expandida da Vale (que considera os desembolsos previstos com os acordos de Mariana e Samarco) ficou estável no trimestre, em US$ 16,5 bilhões. 

Bacci, o CFO, disse que o objetivo da companhia é manter a dívida no centro da faixa entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões. 

“Sempre vamos olhar onde estamos na dívida para determinar nossa capacidade de pagar dividendos e fazer recompras,” disse Bacci. “Se a combinação de volume e preços permitir uma geração de caixa que deixe a dívida abaixo de US$ 15 bi, vamos ter uma disposição maior para recompras e dividendos.”

Sobre as perspectivas para o preço, o CEO da Vale disse que vê o mercado em equilíbrio, e que é “difícil imaginar grandes mudanças estruturais.”

“Achamos que US$ 90 a tonelada é um preço de equilíbrio de longo prazo para a indústria, porque abaixo disso, com uma produção de 150 milhões de toneladas de minério de ferro, já não é mais economicamente viável operar. Então abaixo disso algumas mineradoras menos eficientes terão que sair do mercado, e o preço se corrige.”

O CEO também comentou Novo Carajás, o projeto que a Vale anunciou semana passada com investimentos de R$ 70 bilhões até 2030 para aumentar a produção de Carajás para 200 milhões de toneladas/ano.

Segundo ele, vários dos investimentos que a Vale fará no Novo Carajás já haviam sido anunciados antes. “Mas nunca tivemos um foco dedicado ao crescimento de Carajás. Agora, estamos criando uma diretoria de Novo Carajás, com um time dedicado ao desenvolvimento desses projetos,” disse Pimenta. 

“Em metais básicos, mudamos o olhar e o modelo de operação e isso trouxe resultados muito bons. Vamos fazer a mesma coisa em Carajás e esperamos um resultado relevante.”

Sobre a mineradora Bamin — dona de três grandes projetos na Bahia e cuja venda o Governo está tentando articular para a Vale — Pimenta disse que está avaliando mas não fará nada se a conta não fechar.

“É um projeto de minério de ferro com um volume potencial importante. E como os maiores operadores do País, olhamos para todos os projetos em desenvolvimento,” disse o CEO. “Mas para esse projeto virar realidade ele precisa passar por uma série de etapas: avaliação de risco-retorno, conhecimento do corpo minerário e da qualidade do minério, para ver se está dentro do que queremos. Agora ele está nessa etapa. Então é muito cedo para dizer se vamos seguir com ele ou não.”

O CEO disse ainda que o projeto é estruturante para o País, o que explica o interesse do Governo, mas que a avaliação da Vale independe disso.