Deitado em uma cova, o ar começou a faltar.
Essa é uma das memórias mais profundas de Alexandre Cymbalista, então com 17 anos, sobre o episódio que mudaria sua vida. Na escuridão absoluta do Cerro Tronador, em Bariloche, ele e o amigo Adriano Petrachi foram surpreendidos por uma tempestade e tiveram que lutar contra o frio, a fome e o medo.
“A barraca começou a ser esmagada pela neve. A gente teve que sair de lá e descer a montanha, pois não dava mais pra fazer nada,” conta Alexandre a Nilton Bonder no episódio de The Business Of Life. Seguir em frente era um ato suicida – e esperar, sob a ação do frio e do vento, também.
Em terra, uma cova é um leito guardado aos mortos; em uma tempestade de gelo, ela se torna uma oportunidade de sobrevida. Foi quando Alexandre teve uma ideia: “Eu lembrei de uma das situações que alpinistas já tinham vivido, que era cavar uma cova de gelo na montanha… Então a gente fez isso, a gente passou uma tarde inteira fazendo isso.”
Ficaram molhados, tremendo, com comida para apenas um dia, mas só foram resgatados no terceiro dia. Ao encontrarem as equipes de resgate, os brasileiros descobriram que eram os últimos de uma temporada de escalada que já havia terminado.
A experiência forjou um instinto que se tornaria central em sua vida. Depois de temporadas nos Andes e na Antártida, onde serviu como alpinista da Marinha, Cymbalista trocou o gelo pelo empreendedorismo. Em 2003, fundou a Latitudes, agência de viagens de conhecimento que combina destinos remotos e a presença de especialistas, como Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e Clóvis de Barros Filho.
Com mais de 100 países em seu passaporte, Alexandre mira novos horizontes: o próximo projeto da Latitudes pretende levar brasileiros ao espaço até 2035. De um abrigo de neve a um foguete rumo às estrelas, Cymbalista transformou a aventura em método — e provou que, na montanha e na vida, sobreviver é a maior conquista.
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