Suspeitas de fraudes e temores de prejuízos expressivos com operações de crédito subprime atingiram alguns bancos regionais americanos – e estão causando preocupações de um contágio mais amplo no sistema financeiro americano.
Ontem, o Zions Bancorp, um banco de Salt Lake City, disse que fará baixas significativas em seu balanço e que amargará perdas com supostas fraudes envolvendo fundos de investimentos de uma gestora.
Sua subsidiária California Bank & Trust, de San Diego, concedeu duas linhas de crédito em 2016 e 2017, totalizando mais de US$ 60 milhões, para investidores do setor imobiliário. O dinheiro seria usado na aquisição de hipotecas em dificuldades (distressed mortgages).
Agora o banco descobriu que muitos dos colaterais apresentados foram transferidos para outras entidades, e que propriedades imobiliárias dadas como garantia já foram executadas.
O Zions entrou com uma ação judicial para recuperar mais de US$ 60 milhões.
As operações problemáticas estão ligadas aos fundos Cantor II e Cantor IV, distribuídos por uma empresa chamada Cantor Group V – que não tem nenhuma ligação com a Cantor Fitzgerald.
Em um caso semelhante, o Western Alliance, com sede em Phoenix, disse ontem que busca recuperar US$ 100 milhões relativos a transações também da Cantor Group V.
As ações de ambos os bancos foram castigadas na quinta-feira. O Zions desabou 13% e o Western Alliance perdeu 11%. O índice de bancos regionais caiu 6,3%. Hoje, os papéis tiveram uma recuperação.
De acordo com a Bloomberg, os problemas de ambos os bancos estão ligados à quebra em fevereiro da MOM CA Investco, uma empresa californiana de investimentos imobiliários.
Antes desses dois casos, em setembro já haviam surgido dois outros episódios envolvendo o mercado de crédito subprime, com a quebra da Tricolor Holding – de revenda e financiamento de veículos – e da First Brands, de autopeças.
Dois grandes bancos enfrentaram perdas substanciais em empréstimos relacionados à falência da Tricolor: o JP Morgan registrou baixa contábil de US$ 170 milhões, e o Fifth Third teve uma perda de US$ 178 milhões.
Os prejuízos teriam ocorrido porque a Tricolor teria usado os mesmos colaterais em mais de uma operação de crédito.
A First Brands está sob investigação do Departamento de Justiça. Um credor disse que US$ 2,3 bilhões “simplesmente desapareceram.”
Em seu Chapter 11, a empresa afirmou que carrega uma dívida entre US$ 10 bilhões e US$ 50 bilhões – um número bastante impreciso, para dizer o mínimo – e ativos entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões (idem).
Na fila de credores estão grupos como as seguradoras Allianz, Coface e AIG. O banco de investimentos Jefferies também informou que vai registrar baixas expressivas em seu balanço.
As bolsas dos EUA tiveram hoje um dia de ligeira alta, desconsiderando por ora um contágio das perdas nos bancos regionais.
O Zions subiu 5%, depois de uma recomendação de compra da corretora Baird, para a qual as perdas com os financiamentos suspeitos serão limitadas. O Jefferies subiu 6%, com a Oppenheimer elevando o papel para outperform. O Western Alliance teve alta de 3%.
Banqueiros e analistas, contudo, sugerem cautela. Com valuations das ações nas alturas e os spreads de crédito em mínimas históricas, o mercado fica sujeito a correções. Na semana passada houve estresse nas criptomoedas. Agora, apareceram as fragilidades em bancos regionais.
Como disse esta semana o CEO do JP Morgan, Jamie Dimon, “quando você vê uma barata, deve haver outras por perto. Todos deveriam ficar atentos.”











