A Cruzeiro do Sul Educacional está comprando o Centro de Ensino Superior de Pinhais (FAPI) no primeiro M&A da companhia de educação desde seu IPO há pouco mais de três anos.
A transação saiu a um enterprise value de R$ 184 milhões, dos quais R$ 13 milhões são dívida.
O grande valor da FAPI está em suas vagas de medicina, um curso que ela iniciou em novembro passado depois de receber a autorização do MEC. A FAPI tem 154 vagas de medicina abertas, que terminarão de ser preenchidas nas matrículas do próximo semestre.
O centro universitário – localizado na região metropolitana de Curitiba – também tem cursos como direito, administração e contabilidade.
O valor pago pela Cruzeiro do Sul equivale a R$ 1,2 milhão por vaga de medicina, o menor múltiplo de transações desde agosto de 2020, quando o preço por esses ativos começou a inflar.
Nas 11 transações que ocorreram de lá para cá, o valor médio pago foi de R$ 2,2 milhões/vaga, segundo um levantamento do BTG.
Na mais recente, a compra da Unidom pela Afya no mês passado, o preço ficou em R$ 2,2 milhões/vaga. Na anterior, a compra da CCSI também pela Afya, em outubro do ano passado, foi de R$ 1,7 milhão.
O CEO Fábio Fossen disse ao Brazil Journal que desde o IPO a Cruzeiro do Sul analisou dezenas de potenciais M&As, já que a tese era justamente usar o dinheiro levantado para crescer inorganicamente.
“Fizemos mais de 30 análises, mas nunca o preço do vendedor batia com o preço que achávamos justo,” disse ele. “Sempre fomos muito conservadores para usar o capital dos acionistas. E agora, pela primeira vez encontramos um ativo a um preço que realmente achamos que vai criar valor.”
A Cruzeiro do Sul levantou R$ 1 bi no IPO e tem uma alavancagem de 1,3x EBITDA – a mais baixa do setor. A compra de hoje será paga 100% em dinheiro.
Fundada há 25 anos, a FAPI pertencia a uma família de Curitiba. Todos os grandes players do setor participaram do processo de venda, mas a família decidiu vender para a Cruzeiro do Sul em parte porque a empresa se comprometeu a manter o nome e preservar as características do negócio.
Fossen disse que a receita e o EBITDA da FAPI hoje são baixos, mas que a universidade tem um forte potencial de crescimento.
“Dá para crescer muito na medicina, e também para incluir cursos da área que eles ainda não tem, como enfermagem, biomedicina e nutrição,” disse o CEO.
Em medicina, a FAPI também tem a possibilidade de expandir as vagas. Segundo Fossen, a faculdade já tem mais 146 vagas na fase de recurso administrativo no Conselho Nacional de Educação.
Outro atrativo da FAPI, segundo o CEO, é sua localização.
A Cruzeiro do Sul já tem outros três campi em Curitiba – todos com a bandeira Universidade Positivo. Fossen disse que a companhia já conhece muito bem a demanda da região e que, na Positivo, há diversos cursos – inclusive o de medicina – com um excesso de demanda, que poderá ser encaminhada para a FAPI.
“Estamos entrando num lugar que já conhecemos muito bem, então o nível de risco é muito menor,” disse ele. “A Positivo é a segunda maior universidade de Curitiba, atrás apenas da PUC.”
A transação de hoje aumenta em 23% as vagas totais de medicina da Cruzeiro do Sul (685 hoje) e praticamente dobra suas vagas de medicina em Curitiba, onde ela tinha 164 vagas na Positivo.
A companhia tem outras 670 vagas com pedidos abertos no MEC para 6 de suas faculdades. Aplicando o mesmo múltiplo da transação de hoje (R$ 1,2 mi/vaga), o CFO Felipe Negrão disse que essas vagas poderiam adicionar R$ 804 milhões ao valor justo da companhia, se forem aprovadas.
A Cruzeiro do Sul vale R$ 1,5 bi na B3.