A Cosan anunciou a criação de uma nova empresa para investir em gás e energia, um setor que deve explodir com a oferta abundante de gás do pré-sal e mudanças regulatórias que incentivam a concorrência.

10560 71c7f80c 8eb0 9f1b 3739 9289fe6880a5A nova empresa — Compass Gás e Energia — nasce dona da participação da Cosan na Comgás e de uma comercializadora de energia que a Cosan comprou no fim do ano passado.

A Compass nasce como uma empresa integrada e um diferencial competitivo: como é dona de um portfólio cruzado de clientes, poderá oferecer energia elétrica a clientes que hoje compram gás — e vender gás a clientes que hoje só compram energia.

Além da comercialização, a Compass vai operar em outras três linhas de negócio.

Na distribuição, além de continuar com a Comgás, a Compass poderá participar da privatização da Gaspetro e das distribuidoras estaduais de gás. Estados como Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná já manifestaram a intenção de vender suas participações.

Na infraestrutura, a Cosan é o idealizador do Rota 4, o gasoduto de escoamento que ligará o gás da Bacia de Santos ao mercado consumidor de São Paulo.  O Rota 4 — que deve ficar pronto em 2027 e também foi contribuído para a Compass — é um investimento estimado em R$ 8 bilhões, e a Compass pretende atrair sócios para o projeto uma vez que o licenciamento esteja concluído.  

“Vamos ter de 5% a 10% do Rota 4; nosso interesse é que o projeto saia do papel, que este gás chegue ao continente,” Nelson Gomes, o presidente da Comgás e agora também CEO da Compass, disse ao Brazil Journal.

10928 5be3cab4 5ba9 bc2a 2973 f3677f1b942eA Compass também pretende construir um terminal em Santos para receber navios trazendo gás liquefeito importado, um investimento estimado em R$ 500 milhões.

Finalmente, no segmento de geração, a Compass vai buscar parcerias para participar dos próximos leilões de térmicas a gás, um mercado que a Cosan estuda desde 2017.

A criação da nova empresa mostra que o empresário Rubens Ometto está se posicionando para as mudanças sísmicas que devem redesenhar a paisagem do mercado de energia nos próximos anos.

Hoje, apenas 30% da energia elétrica vendida no Brasil é negociada no chamado ‘mercado livre’, composto por grandes consumidores como indústrias e shoppings.  Mas esse percentual deve aumentar drasticamente nos próximos anos. 

Na semana passada, a Comissão de Infraestrutura do Senado aprovou o PL 232/16, que permitirá que todos os consumidores possam escolher seu fornecedor de energia, criando, na prática, a portabilidade da conta de luz.  O detalhe: o consumidor residencial terá que fazer a contratação por meio de uma comercializadora, como a Compass.  

No mercado de gás, as mudanças serão ainda mais drásticas.

Hoje, como a Petrobras é dona de toda a infraestrutura essencial, não existe concorrência, e todos os consumidores compram gás direta ou indiretamente da Petrobras. Mas isso vai mudar.  

Um termo de compromisso de cessação (TCC) entre o CADE e a Petrobras obriga a estatal a dar acesso a sua infraestrutura de escoamento — incluindo as chamadas UPGNs (o equivalente a refinarias de gás).  Mais: o termo obriga a estatal a vender o percentual que ainda detém nos gasodutos de transporte (TAG e NTS), além de dar garantia de acesso a terceiros (apesar de ter vendido o controle dos gasodutos, a Petrobras contratou toda a capacidade de transporte).


Hoje, empresas como Shell e Statoil já produzem cerca de 30% do gás que vem do pré-sal e vão se beneficiar desse cenário.  

Além disso, o TCC obriga a Petrobras a privatizar a Gaspetro, a holding por meio da qual a estatal participa hoje de 19 distribuidoras estaduais.   (A trading japonesa Mitsui e os estados são sócios da Petrobras em diversas destas distribuidoras e podem exercer seu direito de preferência.)

Hoje, diversos estados brasileiros — incluindo São Paulo e Rio — já têm, no papel, a figura do consumidor livre.  

Isso significa que, no futuro, o consumidor poderá, por exemplo, comprar seu gás da Shell, que entregaria o produto passando por toda a infraestrutura da Petrobras até chegar à Comgás. O consumidor receberá duas notas fiscais:  uma — referente à molécula de gás — será emitida pela Shell, a outra — referente ao serviço de distribuição — pela Comgás.

Esse cenário de livre escolha deve sair do papel e se tornar realidade assim que a Petrobras cumprir todos os termos do TCC.  Hoje, cerca de 66% da demanda de gás de grandes consumidores do Brasil já vem de estados que prevêem a figura do consumidor livre.