“O que aconteceu foi uma loucura. Eu disse ao Roberto [Campos, presidente do Banco Central], as grandes empresas estão parecendo aquelas pessoas que vão ao supermercado comprar álcool em gel e querem trazer 100 litros para casa, mas não precisa. Essas empresas não precisam dessa liquidez.” 

A frase, em entrevista à Agência Estado, é do CEO do Bradesco, na descrição mais vívida até agora da corrida pelo caixa protagonizada pelas grandes empresas assim que a crise eclodiu.

10409 bd39d84e 5abf 0000 0030 25f9447ac2fbOctavio de Lazari continuou: “Optamos por distribuir isso [a liquidez] ao longo do tempo porque não podemos atender somente as grandes empresas, temos de atender às pequenas e micro. Estávamos perto de lançar a linha para folhas de pagamento. Preciso ter dinheiro em caixa para liberar para essas empresas que precisam pagar salário e, diferentemente das megaempresas, não têm caixa. As megaempresas têm caixa para pagar uma, duas, três, até dez folhas de salário e queriam liquidez.”

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Sergio Bermudes, um dos maiores advogados do Brasil, está internado no Rio, lutando pela vida.  É o vírus maldito.

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Um dos gestores mais renomados do País, Maurício Bittencourt está botando o caixa para trabalhar. 

O fundador da antiga MSquare, agora VELT Partners, disse que a gestora entrou na crise com 20% da carteira em caixa e que agora está aumentando sua posição em papéis como Hapvida (que saiu de 6% da carteira para cerca de 11%), Stone, B3 e Eneva. 

Os comentários foram feitos durante videoconferência da XP Private. 

“Estamos comparando esse período com uma travessia no deserto: você não sabe a duração, é um terreno muito difícil, mas muitas empresas vão conseguir passar. E gostamos de investir naquelas que estão fazendo essa travessia dentro de um Jeep, com GPS e comida.”

Segundo ele, a Hapvida é um bom exemplo: tem R$ 1,5 bilhão de caixa líquido e a maior margem líquida dentre todas as operadoras de saúde listadas. 

“A margem média das operadoras do Brasil é em torno de 3%. Na Hapvida, é cerca de 20%. Isso é importante porque se as despesas médicas crescerem muito [por causa da crise], todo mundo vai afogar antes dela,” disse ele. “Além disso, é o plano mais barato do Brasil, e em momentos de crise as pessoas perdem renda e precisam reduzir custos.”

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Alguns gestores acham que, ao contrário do senso comum, as operadoras de saúde podem atravessar a crise sem apresentar alta no sinistro.

O motivo: ninguém quer ir ao hospital agora, e as cirurgias eletivas estão caindo dramaticamente.

A Zimmer Biomet, maior companhia de próteses do mundo, estima que seu faturamento do segundo tri vai cair entre 50% e 60% na medida em que cirurgias de coluna, substituição de bacias e cirurgias ortopédicas estão sendo adiadas.

O Opportunity, por exemplo, acaba de chegar a 5% do capital da Sul América na Bolsa.  A gestora de Dório Ferman já tinha posição no papel e aumentou na crise.

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Além de ter levantado R$ 1,1 bilhão com a venda de ações logo antes da crise eclodir, a Ânima Educação acaba de tomar mais R$ 450 milhões em dívida com a International Finance Corporation (IFC), o braço de participações do Banco Mundial. 

O empréstimo tem carência de três anos e, a partir de março de 2023, a companhia terá mais cinco anos para amortizar a dívida.  Os recursos serão usados para aquisições. 

Agora, a Ânima tem R$ 1,5 bilhão em caixa e vale R$ 2,1 bi na Bolsa.

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A Riza Asset Management, a gestora criada ano passado dentro da Riza Capital, acaba de lançar seu primeiro fundo de captação externa. O Riza Daikon é um multimercado que vai investir principalmente em crédito privado com foco em empresas com rating AA e AAA. 

O fundo começou a rodar no dia 31 de março com seed money da própria Riza, que colocou R$ 35 milhões. A captação está sendo feito pelas plataformas da XP e BTG. 

O fundo já foi às compras e o portfólio hoje tem por volta de 25 papéis (todos AA e AAA) com um yield médio de CDI + 4,3% e um duration de até um ano e meio. Antes da crise, esses mesmos papéis negociavam com um yield médio de CDI + 1%. 

Daniel Lemos, o gestor da Riza, está mantendo 30% da carteira em caixa. “Acreditamos que ainda vai ter bastante volatilidade e um fluxo bem negativo nos fundos de renda fixa. Em alguns papéis o yield ainda pode aumentar mais,” diz. 

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Quer comprar uma nota de R$ 100 pagando com uma de R$ 50?  

Para ajudar bares e restaurantes que estão sofrendo com a crise, a Stella Artois criou um movimento para minimizar a receita perdida.

O ‘Apoie um Restaurante’ está vendendo vouchers de R$ 100 que podem ser usados até o fim do ano. A beleza do negócio: o cliente paga apenas R$ 50, e a Ambev e a Nestlé bancam o restante.

“A situação dos restaurantes está muito crítica. Muitos estão com um descasamento grande de caixa, e precisando de receita urgentemente,” diz Fabrizio Serra, o fundador do Chefsclub, que está viabilizando a iniciativa com sua tecnologia.

Em duas semanas de campanha, já foram vendidos 55 mil vouchers de um total disponível de 100 mil — ajudando mais de 2,5 mil restaurantes.

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E por falar em situação crítica, uma nota num jornal carioca hoje cedo levou à depressão os tomadores de chopp dos ‘pé limpos’ cariocas — incluindo muitos farialimers.

A nota dizia que o Astor, bar que fica no Arpoador e é um favorito dos paulistas que viajam ao Rio, estava fechando as portas de vez, assim como os outros dois restaurantes da holding: as pizzarias Bráz da Barra e do Jardim Botânico.

Horas depois, a empresa veio a público e esclareceu:

“A Companhia Tradicional de Comércio garante que não desistiu e nem desistirá do Rio de Janeiro. Suas três casas estão [apenas] se adaptando ao gravíssimo momento que enfrenta o setor de hospitalidade.”

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Em seu novo blog, no G1, Ana Flor ouviu do secretário do Tesouro o tamanho do rombo fiscal em abril:  ele será maior que todo o ano de 2019, quando o Brasil registrou um déficit primário de R$ 95 bilhões.

Antes da crise, a estimativa inicial do governo era de um déficit primário de R$ 124 bilhões para este ano. Agora, o número já subiu para R$ 419 bi.