Uma grande empresa — com fluxo de caixa duro, condições de liquidez inafetadas pela crise e acionistas parrudos — ligou para o proprietário do prédio comercial onde é inquilina e pediu desconto e prazo para pagar.  

Se mesmo as maiores empresas do País tentarem fazer caixa em cima das menores, onde isso vai parar?

Em muitos casos, quem vai pagar a conta são os cotistas de fundos imobiliários de escritórios, que são os donos finais do ativo. 

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Marcio Appel acha que, quando sairmos disso tudo, o cenário “será muito pior que o de 2008.”

10211 fc654705 9704 0000 1109 9d4858c92295“Quando sairmos [desta crise] as empresas vão estar muito alavancadas e num cenário de inadimplência maior e consequentemente risco de crédito maior,” o gestor da Adam Capital disse numa live do BTG.

“E diferente da crise de 2008, que foi só de demanda, essa é de oferta também, então não é clara a trajetória da inflação. Muita gente acha que é deflacionária, mas eu não tenho tanta certeza.”

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Appel disse não entender a convicção dos comprados em Bolsa dado o tamanho da incerteza. 

“Está todo mundo otimista demais, e eu acho que é porque as pessoas já estavam compradas antes. O fato da Bolsa ter batido 120 mil pontos não gera uma obrigação do universo para que ela volte a 120 mil pontos… Os 70 mil pontos hoje são com certeza mais caros do que eram no passado, porque a incerteza é muito maior.”

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Para navegar a pandemia, o gestor disse que está com um portfólio equilibrado e focado em apostas relativas, já que “é mais fácil ter boas opiniões em performances relativas do que grandes certezas em movimentos direcionais.”

Por exemplo, no book de moedas — o que mais contribuiu para a performance da Adam desde o início do ano — ele segue short em moedas de emergentes, como a Turquia, e long em dólar, além de manter uma posição comprada em Euro contra o Franco Suíço. 

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Mas para Appel, as perspectivas para o real começam a melhorar, o que o levou a desmontar uma posição vendida na moeda brasileira. 

“Essa recessão — quase depressão — que vamos ter vai reduzir muito a demanda doméstica, e como somos um país exportador de commodities — e um pedaço disso é alimentos e o outro é o investimento chinês, que consome nosso minério e continua tendo um suporte razoável — a conta corrente vai virar muito rapidamente. Entre os emergentes o real deve ser uma das melhores moedas.”

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No book ‘long/short’, a gestora está 60% comprada em ações e 70% vendida; uma posição líquida vendida de 10%. 

Mas na ponta comprada, a Adam está apostando em empresas americanas e, entre elas, setores específicos como cloud computing.  A carteira tem Microsoft e bancos.

“Os bancos americanos estão muito mais baratos que os brasileiros neste momento”, disse ele. “Se tem que comprar uma ação de banco é melhor comprar JP Morgan e Bank of América do que os bancos brasileiros.”

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A Via Varejo avisou a seus fornecedores indiretos — empresas que incluem desde pequenas transportadoras que fazem serviços de entrega até desenvolvedores de sistemas e fornecedores de material para as lojas — que vai adiar o pagamento de todos as suas obrigações por até um mês e impor um prazo mínimo de 75 dias.

A explicação da empresa: a área administrativa está trabalhando de home office.

“Todos os valores previstos entre os dias 3 e 30 de abril serão centralizados e programados para o dia 5 de maio de 2020. E assim procederemos com as demais obrigações, consecutivamente para os meses à frente, até o completo retorno à normalidade,” a empresa disse em nota.

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Para Thomas Traumann, consultor político com anos de bagagem, a pesquisa da XP sobre a popularidade do governo é “um baque para o negacionismo de Bolsonaro. A sua popularidade caiu, a dos governadores aumentou e o apoio ao isolamento é consenso”.

Segundo o estudo, 42% da população avalia o governo Bolsonaro como ruim e péssimo — o pior resultado desde o início do mandato. Enquanto isso, 44% da população avalia a gestão dos governadores como ótima ou boa. Há um mês, essa fatia estava em 20%.