A simples ideia de tomar vinho em lata soa como blasfêmia para sommeliers e enófilos de carteirinha.

Mas depois que a Anheuser-Busch Inbev comprou a Babe, uma marca americana de latinhas de vinho, ninguém mais pode dizer que a ideia dos empreendedores por trás da Vivant não faz sentido, pelo menos em termos de negócios.

 

Fundada há apenas cinco meses no Rio, a Vivant é a primeira marca brasileira a apostar no formato, que já virou febre entre os millennials americanos — nas festas de verão é cada vez mais comum encontrar packs de vinho no lugar das tradicionais cervejas. 

“Queremos acabar com essa história de harmonização, esse esnobismo da galera que entende de vinho,” diz, na lata, Leonardo Atherino, um dos fundadores da Vivant e um ex-analista da área de wealth do Opportunity. “Vinho tem que harmonizar com o que você quiser. A missão da Vivant é descomplicar o consumo de vinho,” completa Alex Homburger, o outro fundador e CEO.

Nos Estados Unidos, o vinho em lata já circula desde 2004, quando a Francis Ford Coppola Winery lançou o espumante em lata ‘Sofia’ Blanc de Blancs. Mas até 2012, o mercado era praticamente inexistente: movimentava pífios US$ 2 milhões/ano. 

De lá para cá, marcas como a Babe colocaram o segmento em franca ascensão e, no ano passado, os americanos já gastaram mais de US$ 60 milhões com latinhas de vinho.  

Por aqui, o desafio é um pouco mais complicado: a Vivant terá de criar um novo mercado do zero sem falar na provável concorrência da própria Ambev, que pode decidir importar as latinhas da Babe. 

 

A Vivant criou uma marca para os millennials, um público que consome cada vez mais vinho no Brasil e que ainda não tem uma marca da bebida para chamar de sua. A proposta é ter uma bebida leve (o teor alcoólico dos vinhos da Vivant é em torno de 11%, frente à média de 12,5% do mercado) e perfeita para beber gelado.  

Apesar do discurso efusivo sobre harmonização, a ideia dos fundadores não é competir com o mercado tradicional de garrafas, mas funcionar como uma alternativa para ocasiões específicas de consumo. “Ninguém vai levar uma garrafa de vinho pra beber na praia, na piscina ou numa balada, mas uma latinha sim,” diz Atherino.   

Por enquanto, a Vivant já vendeu cerca de 20 mil latinhas e fechou parceria com perto de 200 pontos de venda no Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul. Até o fim do ano, espera vender mais 100 mil e faturar R$ 1 milhão. Para 2020, a meta é vender 600 mil latinhas e quintuplicar o faturamento.

Quem desenvolveu o blend dos vinhos foi Felipe Siqueira, um ex-executivo global da Philip Morris aficionado pela bebida e formado na Le Cordon Bleu.  

A produção é feita na vinícola Quinta Don Bonifácio, em Caxias do Sul, e o produto está sendo vendido também em hostels, barracas de praia e até no cinema (a rede Kinoplex começou a vender as latinhas em algumas de suas unidades). A marca opera ainda um ecommerce próprio que atende todo o Brasil. 

A startup tem seed capital de investidores-anjo como o CFO da Neogás e ex-vp da Brookfield Energia no Brasil, Luis Fernando Nogueira, e sweat equity da Matriz, uma empresa do ex-diretor de marketing da Oi e da AB Inbev, Eric Albanese, e de dois ex-diretores da Pepsico.

Com os recursos, que darão um fôlego de mais dois anos a operação, a Vivant deve levar suas latinhas para o Sul e para Minas Gerais, além de investir pesado em marketing. 

A aposta dos fundadores é que o Brasil siga o mesmo caminho do mercado americano, onde o vinho em lata já entrou no mainstream, como prova a transação da AB Inbev.