Ray Dalio concorda com Paulinho da Viola: dinheiro na mão é vendaval.
O fundador da Bridgewater — o maior hedge fund do mundo — acha que estamos chegando no estágio final do ciclo de crédito global, e só há uma coisa a fazer: livrar-se da sua renda fixa, livrar-se de dinheiro em caixa, e comprar alguma coisa.
Qualquer coisa.
Num post no LinkedIn intitulado “Por que diabos você teria títulos de dívida em dólar?”, Dalio disse que o “dinheiro é e continuará sendo lixo”, uma tese que ele já sustenta há algum tempo.
Desta vez, no entanto, ele também atacou os títulos de renda fixa.
“O ‘economics’ de investir em bonds (e na maioria dos ativos financeiros) se tornou estúpido. Em vez de receber menos que a inflação, por que não comprar ‘coisas’ em vez disso — qualquer coisa — que igualem ou superem a inflação?” escreveu.
Com os bancos centrais injetando doses cavalares de estímulos, o melhor é comprar ativos como ações, ouro e títulos indexados à inflação, já que “a resposta aos estímulos vai começar fazendo com que esses ativos subam antes do estímulo chegar a toda a economia e o paciente começar a reagir,” escreveu Dalio.
Sua recomendação: substituir o tradicional portfólio de stocks/bonds por um portfólio diversificado de ativos “non-debt” e “non-dollar”.
“Eu também acredito que os ativos nos países desenvolvidos com moedas usadas como reserva de valor vão performar pior que os mercados de países emergentes da Ásia.”
Para ilustrar a situação maluca dos bonds, Dalio calculou quantos anos levaria — com os juros atuais — para um investidor que comprou US$ 100 em bonds ter seu dinheiro de volta e começar a receber um retorno do investimento.
O resultado: 42 anos nos EUA; 450 na Europa; 150 no Japão; e 25 na China — e isso, sem considerar a inflação.
“Se a nova demanda por bonds cair significativamente vis-à-vis a oferta, o que me parece muito provável, há dois caminhos: ou as taxas de juros vão subir e derrubar o preço dos bonds; ou os bancos centrais terão que imprimir uma quantidade significativa de dinheiro para comprar essa dívida que o mercado não quer, criando inflação.”
E continuou:
“A história e a lógica mostram que os bancos centrais — diante de uma situação de desequilíbrio de oferta e demanda que levaria a um aumento maior que o desejado das taxas de juros — escolhem imprimir dinheiro para comprar os bonds, criando “controles da curva de juros” e desvalorizando o dinheiro.”
Para ele, essa dinâmica torna o dinheiro “um ativo terrível de se possuir e ótimo de se tomar emprestado.”
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Dalio também disse que está confiante que os Estados Unidos vão elevar os impostos sobre fortunas, o que deve ter um papel importante na migração de capital para diferentes ativos e países.
“Essas mudanças de impostos podem ser mais chocantes que o esperado. Elizabeth Warren, por exemplo, propôs uma taxação da riqueza de um tamanho sem precedentes e que, baseado em estudos de impostos semelhantes em outros países, muito provavelmente levaria a uma fuga de capital dos Estados Unidos… os EUA podem passar a ser percebidos como um lugar inóspito para os capitalistas.”
Segundo ele, apesar desse projeto de lei provavelmente não passar no Congresso em 2021, a chance de um aumento relevante de impostos nos próximos anos é “significativa.”