Enquanto nos Estados Unidos o investimento em venture capital representa 0,4% do PIB, no Brasil é 0,04% do PIB. 
 
Isso significa que, como a economia norte-americana é dez vezes maior que a brasileira, com as demais condições iguais, a cada 100 startups, 99 vão aparecer lá e apenas uma aqui.
 
Esse é um dos insights que compartilhamos na primeira edição da conferência ‘Brazil at Silicon Valley’, uma iniciativa incrível de alunos e ex-alunos brasileiros de Stanford para discutir a digitalização e a inovação no Brasil.
 
A McKinsey apresentou um dossiê inédito sobre a economia do Brasil digital, em que apontamos desafios e oportunidades para o País voltar a crescer a partir da tecnologia, da inovação e do empreendedorismo.
 
Constatamos que existem várias outras dificuldades além da falta de venture capital.
 
Nossa produtividade pouco aumentou nas últimas décadas, e quase não temos conseguido inovar.
 
Também precisamos ser um país mais atrativo para os negócios digitais. Atualmente, ocupamos a posição 109 no ranking global de facilidade em se fazer negócios digitais.
 
Aqui, gastam-se 79 dias para abrir uma empresa, contra metade de um dia no Reino Unido.
 
Para dificultar ainda mais, o custo elevado de abrir e fechar empresas, além do longo tempo que esse processo leva, é ainda mais custoso em um ecossistema digital, onde é preciso testar e falhar para alcançar o sucesso.
 
Já entre os maiores entraves apontados pelas startups está a falta de pessoas com habilidades digitais. Apenas 17% dos estudantes universitários cursam áreas como engenharia e ciência da computação.
 
O Brasil também não é um país atrativo para estrangeiros que queiram trabalhar aqui. Nos EUA, pelo menos metade das startups avaliadas em mais de US$ 1 bi têm um fundador imigrante. 
 
Por fim, no campo da inovação, estamos sempre atrasados. Emitir uma patente pode levar até 14 anos no Brasil. Que valor um novo produto digital terá em uma década? No Japão, são emitidas 65 vezes mais patentes por ano em comparação ao Brasil.
 
Mas nem tudo está perdido.
 
O PIB brasileiro, finalmente, voltou a crescer. A confiança do consumidor e da indústria está alta, os juros e a inflação baixaram.
 
Nos últimos anos, vimos os primeiros oito unicórnios (empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) brasileiros nascerem, e há grande potencial para surgirem outros. Já são 8 mil startups no Brasil, que geram mais de 30 mil empregos. No ano passado, elas somaram investimentos de mais de US$ 1 bilhão.
 
Sair de um empreendedorismo de subsistência para um empreendedorismo de disrupção é algo que precisamos celebrar.
 
Além disso, o brasileiro é ávido pelo digital (a população passa, em média, nove horas por dia conectada) e um povo empreendedor (40% das pessoas exercem algum tipo de atividade autônoma).
 
Há oportunidades enormes pela frente nos diversos setores.
 
A penetração do ecommerce corresponde a apenas 6% das vendas do setor, contra 20% na China. Uma lacuna que pode ser preenchida pelos varejistas nacionais.
 
Temos 25% da população desbancarizada, um ativo enorme para as fintechs; 45% de prontuários médicos armazenados em papel, já visados por startups de saúde; e quase 40% da população que não terminou o ensino médio, alcançadas por startups de ensino à distância.
 
Já está mais do que na hora de solucionarmos problemas estruturais e oferecermos um ambiente mais favorável aos negócios, especialmente os digitais. Esperamos que a revolução digital brasileira seja um verdadeiro ponto de inflexão para uma nova era de crescimento e prosperidade social.
 
Nicola Calicchio é chairman do Conselho Global de Clientes da McKinsey; Jordan Lombardi é sócio da McKinsey.

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