Em 2013, quando vendeu sua participação no Beleza na Web — um e-commerce de cosméticos para o qual atraiu o Tiger Global e a Kaszek Ventures — Lucas Mendes queria passar um tempo só estudando e foi fazer um MBA em Stanford.
O que era para ser uma ‘pausa’ acabou dando origem a outro negócio.
Naquele ano, Mendes conheceu Lachlan de Crespigny — um australiano que morava nos EUA — e os dois criaram a Revelo, uma startup que conecta candidatos e empresas num marketplace e que já tem 3 mil assinantes, entre grandes corporações, como Itaú, Votorantim e B2W, e startups.
A Revelo inverte o modelo de recrutamento: não é o candidato que se aplica às vagas, mas a empresa que escolhe o melhor perfil dentro de uma lista de profissionais.
Os candidatos se cadastram na plataforma e a startup faz uma primeira triagem para garantir a qualidade dos profissionais, disponibilizando os aprovados numa espécie de marketplace.
Quando as empresas assinantes entram na plataforma, um algoritmo sugere os candidatos mais adequados para cada demanda. A companhia pode acessar todos os perfis, mas a Revelo faz também uma curadoria: envia uma shortlist com cinco a dez candidatos que tenham maior aderência à vaga.
Ferramentas de machine learning e inteligência artificial tornam o match mais assertivo.
Desde sua fundação, a Revelo levantou cerca de US$ 6 milhões em duas rodadas de capital. Entre os investidores: o fundo Valor Capital, do ex-embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, o australiano Seek e o Social Capital, do investidor Chamath Palihapitiya.
Agora, a empresa está conversando com fundos locais e estrangeiros para uma terceira captação.
O objetivo: levantar US$ 10 milhões para expandir sua presença geográfica e ampliar as carreiras oferecidas na plataforma. Os atuais acionistas já se comprometeram a participar da rodada.
Hoje, a empresa oferece profissionais principalmente das áreas de tecnologia e finanças, com salários de R$ 6 mil a R$ 20 mil mensais. Com o investimento, o plano é aumentar a visibilidade da Revelo fora de São Paulo, em capitais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, além de incluir carreiras como a de engenharia.
Num País onde o mercado de recrutamento é dominado pelas agências e consultorias offline — que respondem por mais de 95% dos R$ 10 bilhões que o setor movimenta — a Revelo tem conseguido um feito e tanto: crescer a taxas impressionantes convencendo grandes corporações a migrarem para o modelo online. (Esse perfil de empresa já responde por 40% da receita).
O diferencial: oferecer um modelo que reduz custos e torna mais ágil o processo de contratação.
Enquanto numa agência de recrutamento offline o tempo médio para a contratação é de 68 dias e o custo do serviço fica entre 15% a 20% do salário anual do candidato escolhido, na Revelo o tempo cai para 14 dias e o preço, para entre 6% a 8%.
De outubro de 2017 até hoje, Mendes diz que a empresa multiplicou por seis seu faturamento e GMV (volume de salários transacionados). Hoje, o GMV é de R$ 18 milhões por trimestre. Desde a fundação, a receita cresce numa taxa média de 300% ao ano.
A receita da Revelo vem de dois modelos de assinatura. No primeiro, o assinante paga individualmente por cada vaga que preencher pela plataforma. No segundo, usado por mais de 80% das empresas, fecha-se um pacote de contratações por período determinado.
A companhia pode, por exemplo, fechar um pacote para contratar dez posições no período de um ano (se ela usar as vagas antes de acabar o prazo, terá que renovar a assinatura). Nesse modelo, Mendes diz que a taxa de renovação é de 92% por trimestre.
A Revelo não é a única startup usando inteligência artificial para reinventar ou até extinguir a profissão de headhunter.
Fundada por dois ex-bolsistas da Fundação Estudar, a NeuraStream está saindo do papel com uma rodada de seed capital liderada pela Barrah Investimentos.
Um dos diferenciais da NeuraStream é que ela consegue fazer uma inferência cultural sobre o candidato. “Conseguimos ver o candidato aderente não apenas à vaga da empresa, mas à cultura dela”, diz Ivan Gouvea, um dos fundadores.
“A gente olha os interesses da pessoa, a maneira como as pessoas se expressam e por onde elas passaram [as faculdades e as empresas], e com base nisso vemos se o candidato se encaixa na cultura ou não.”
Outro diferencial: o candidato nunca precisa se inscrever na plataforma da NeuraStream. A empresa varre todas as fontes públicas de dados para criar uma lista de ‘prospects’ baseada na demanda do contratante. Como não depende do candidato ‘subir seus dados’ na plataforma, a Neurastream acaba tendo uma base de talentos muito maior. Com o algoritmo rodando há apenas seis meses, a NeuraStream já construiu uma base de 1 milhão de candidatos.
A Neurastream não quer apenas encontrar pessoas em busca de emprego; ela acredita que muitas vezes os melhores candidatos são os que não estão procurando uma vaga.
A ideia original dos sócios era ainda mais ousada. “A gente queria fazer um fundo de investimento baseado no fluxo de capital humano: pessoas boas deixando uma empresa e indo para a outra. Poderia ser um fundo de private equity ou VC. Mais pra frente ainda queremos retomar esse plano,” diz o outro fundador, Rafael Magalhães.