Bom dia, amigos do… VEJA Mercados!
A Cambuci, empresa que é dona das marcas de bolas e chuteiras Penalty e Stadium, esteve prestes a fazer um golaço — mas a bola bateu na trave.
Esse é o tira-teima desse lance que você na arquibancada não viu.
A jogada começou no meio de campo, com uma grande restruturação pela qual a Cambuci passou nos últimos dois anos.
Em outubro de 2013, os irmãos Roberto e Eduardo Estefano, donos da empresa, contrataram Paulo Ricardo de Oliveira, um centroavante com passagens pela Pirelli e pela Drogaria Onofre. (Assim como os Estefano, Oliveira é tricolor do São Paulo.)
Oliveira arregaçou as mangas e cortou custos na carne. A sede da Cambuci saiu de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, para a cidade de São Roque, onde funciona uma fábrica da empresa. Para economizar dinheiro, o patrocínio para os times do Vitória, Náutico e Vasco foi pra escanteio. À época, Oliveira explicou assim sua contratação: “Os irmãos Estefano queriam deixar a paixão pela Penalty de lado e torná-la mais profissionalizada”.
Na Bovespa, a Cambuci vale cerca de 50 milhões de reais, mas suas ações têm baixíssima liquidez, o que impede grandes fundos de comprarem uma participação relevante na empresa.
Além de lidar com os custos, Oliveira bolou uma jogada para aumentar as vendas. Com o apoio de seus chefes, o executivo costurou duas operações que dariam um novo gás à Cambuci — e transformariam a empresa na líder inconteste do mercado de artigos esportivos.
Oliveira foi conversar com o CEO da Alpargatas, Marcio Utsch. Além de dona das sandálias Havaianas, a Alpargatas tinha duas marcas esportivas poderosas: Topper e Rainha.
Oliveira argumentou que, na mão da Cambuci, essas marcas poderiam ser melhor exploradas. Utsch gostou da ideia, e os dois começaram a negociar.
De acordo com uma pessoa familiarizada com as conversas, a Alpargatas entregaria as marcas em troca de uma participação na Cambuci.
Em paralelo a essa negociação, Oliveira buscava um investidor financeiro para injetar dinheiro na Cambuci, viabilizando os planos de crescimento da empresa. O parceiro escolhido foi Carlos Wizard, o empreendedor que vendeu sua empresa de educação por 1,95 bilhão de reais no final de 2013, e agora buscava novas ideias de investimento. Oliveira já conhecia os filhos de Wizard, o que facilitou a aproximação, diz uma fonte próxima dos Wizard.
Mas como frequentemente acontece no mundo corporativo (e na vida), tudo ia bem… até que as coisas começaram a desandar.
Wizard estudou a Cambuci mas, no final, desistiu do investimento. Oliveira e os Estefano, que tinham focado bastante tempo na conversa com Wizard, voltaram então a negociar a compra das marcas da Alpargatas, mas as condições propostas originalmente já haviam mudado.
Dias depois, em agosto passado, Oliveira deixou a empresa após receber um convite para ser CEO do São Paulo (onde ficou até a mudança recente da diretoria).
Mas a ideia de consolidar o setor — comprando mais marcas e abrindo uma rede de franquias — continuava na cabeça de Wizard.
Na semana passada, Wizard fechou negócio com a Alpargatas e, claro, chamou Oliveira para tocar o negócio.
A Cambuci agora terá que concorrer com seu ex-CEO se quiser consolidar o mercado.
Pode isso, Arnaldo?