Com a fusão entre a Kraft e a Heinz, anunciada semana passada, investidores que colocaram dinheiro no fundo que a 3G Capital levantou para a compra da Heinz em 2013 foram informados de que multiplicaram seu capital 2,7 vezes. Antes da fusão, era impossível estimar o retorno porque a Heinz não era listada na Bolsa.
Já os investidores do fundo que a 3G captou no fim de 2014 — e que investiu na Kraft — já estão lucrando 50% em apenas quatro meses.
As melhores estimativas de mercado indicam que o fundo, que captou 5 bilhões de dólares, ficou com 8,5% da nova empresa, a Kraft Heinz Company.
No fechamento de sexta-feira, com a ação da Kraft negociando a 89 dólares, o valor de mercado desta participação, ajustado por dividendos, já era de 7,5 bilhões de dólares, ou seja, os cotistas já ganharam 50%.
Como os acionistas da Kraft receberão um dividendo de 16,50 dólares no fechamento da operação, cada vez que a ação da Kraft sobe daqui por diante, o retorno dos cotistas do fundo sobe mais do que a valorização da ação.
(Por exemplo: quando a ação da Kraft foi de 80 para 88 dólares, ela subiu 10%. Mas o retorno para os cotistas da 3G foi de 12,5%, porque ele é calculado dividindo-se o ganho da ação pelo preço menos o dividendo, portanto uma base menor).
Gestores e analistas passaram a segunda metade da semana tentando modelar a nova empresa, isto é, estimar seu fluxo de caixa e as economias possíveis nos próximos anos. Foi um trabalho complexo, porque muitas informações ainda não estão disponíveis.
Por exemplo, parece haver alguma incerteza sobre quando a Berkshire Hathaway de Warren Buffett exercerá seu direito, previsto em contrato, de comprar 46 milhões de ações da Heinz por um valor simbólico. Estima-se que o exercício desses direitos de subscrição — chamados ‘warrants’ — dará a Buffett mais 5,1% da Heinz.
O mercado também não sabe a que preço exatamente as ações preferenciais da Heinz nas mãos de Buffett (uma dívida de 8 bilhões de dólares que hoje custa à Heinz juros de 9% ao ano) serão resgatadas e refinanciadas pela empresa em junho de 2016.
Os gestores que se sentiram confortáveis o suficiente para comprar ações da Kraft no dia do anúncio da fusão concluíram que a nova empresa estava sendo negociada a 17 vezes seu lucro recorrente (mesmo depois que a Kraft abriu em alta de 35% na quarta-feira.)
Não se trata de um múltiplo ‘barato’, mas muitos investidores estão dispostos a pagá-lo para estar alinhados com a 3G porque acreditam que a Kraft Heinz será uma plataforma para mais fusões com outras empresas de consumo.
“O papel já fechou a semana perto de 19 vezes o lucro,” diz um analista. “É um preço justo, mas que tem algum suporte, porque eles podem entregar mais do que o prometido em sinergias, sem contar a opcionalidade das novas aquisições no futuro. Isso vale dinheiro, dado o quanto eles geraram de valor fazendo esse tipo de negociação historicamente. Sem contar que essa empresa tem um valor de mercado menor que 100 bilhões de dólares hoje. A Anheuser-Busch InBev (ABI) vale 200 bilhões de dólares, mas o universo para M&A em empresas de comida é muito superior ao de cerveja, porque é um setor muito mais fragmentado.”
Dada a sua capacidade de cortar custos e absorver aquisições rapidamente, é razoável supor que a 3G vai usar a Kraft Heinz para criar uma “Inbev de alimentos” — o que poderia dobrar o tamanho da empresa — nos próximos anos.
O problema para a 3G é que, depois da operação da semana passada, muita gente no mundo de private equity vai estudar o setor a fundo, o que pode inflar o preço das empresas como a Mondelez, a General Mills e a Campbell Soup, tidas como encaixes perfeitos para a nova Kraft Heinz. Além disso, o banco central americano está prestes a começar a subir os juros, o que aumentará o custo dos empréstimos. Isso pode fazer com que os outros compradores acelerem seus planos.